Relógio alto. De pêndulo. Por apertos de espaço, colocaram-no próximo da janela que dava para o jardim. Manhã de Maio, uma rosa se abriu. Húmidas as pétalas recortaram no ar o brilho amêndoa, a pureza e a ternura dos mais belos olhos do Mundo. Da janela o relógio olhou-a e parou. Deram-lhe corda e parou. O relojoeiro veio e parado continuou. À meia noite, um poeta, disfarçado de ave noturna, entrou na caixa do relógio e descobriu que estava enfeitiçado. Um êxtase de contemplação pura. E até hoje, segundo consta, nenhum conserto o tirou da sua contemplação.
LUÍS VEIGA LEITÃO -1912-1987
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