Finalmente, na Tribulandia começam a aparecer os herdeiros de Miguel de Vasconcelos. Em vez do “Desejado”aparecem-nos fantasmas daquele que durante muitos anos foi considerado um traidor na história. Daí que espanta pouco o aparecimento de um editorial do “Expresso”, onde se diz que ser português é muito perigoso. Como pressupostos da análise, apresenta os como choques: a perda do império colonial, a transição da ditadura para a democracia, a abertura das fronteiras (economia), a perda da moeda. Tudo acontecimentos que os nossos esclarecidos dirigentes diziam contribuir para o nosso progresso e alinhamento com as nações mais civilizadas. Termina afirmando que estes choques que sofremos puseram em causa todas as nossas certezas. A Espanha nunca teve choques? Não teve uma guerra civil devastadora? Autonomias que ainda hoje reividicam a independência? Não sofreu uma transição da ditadura para a democracia? Não abriu as fronteiras? Não aderiu ao euro? Será que instalada a dúvida, o nosso amor próprio, os nossos valores e prioridades , ficam em causa, como diz? Mas não creio que o autor seja um daqueles fantasmas.
No caderno de Economia, e, para mim, mais em tom de desabafo do que de afirmação, um grande empresário português, mostra-se descrente das capacidades dos portugueses e diz que é melhor juntarmo-nos à Espanha. A frase é muito generalista, para meu gosto, porque, nos vários cantos do mundo, portugueses se têm afirmado em todos os sectores. E conheço o suficiente do mundo para o comprovar.
Seria fastidioso enumerar aqui as causas que tornaram o momento actual difícil. Mas de algumas coisas estou seguro. Que se existir bom senso, se aparecerem mais estadistas da estirpe de um Adriano Moreira, de Sá Carneiro, empresários que vejam mais além do que a piscina e o jacuzzi, financeiros que ganhem o dinheiro aqui mas não transfiram o capital para outras bandas e trabalhadores, que se sintam motivados e não tratados como produtos, vislumbrando um futuro mais tranquilo, a situação melhorará. Além do mais, enquanto houver um português a ler e sentir Fernando Pessoa e outros a esperança vai-se manter.
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