Ainda não vos disse que a Tribulandia tem um culto muito vincado pelo buraco.
As nossas ruas e estradas são um exemplo da divulgação do culto. Não é possível
ir a qualquer lado sem passar por vários, desde os pequeninos que fazem saltitar o carro, suavemente, e nos dão cabo da suspensão até aos maiores que nos rebentam os pneus e nos amolgam as jantes. Consideramos isto um expiar de pecados anteriores e lá vamos sorridentes até ao buraco dos parques de estacionamento, onde o nosso automóvel atinge o êxtase supremo. Só que, depois, ao pagar a conta do estacionamento deixamos lá ficar a carteira e a alma. Isto, porque, inevitavelmente, dizemos palavras feias nessa altura.
Mas não ficamos por aqui na nossa admiração pelo buraco. O orçamento da Tribulandia é um buraco, a segurança social outro, a educação, as dívidas das autarquias, a bolsa e as contas de muitas empresas, etc, etc.. Se um famoso queijo suiço não estivesse patenteado, poderia ser um símbolo nacional.
Alguém escreveu um livro sobre as perigosas ligações das autarquias à construção civil.
Deve ser por que a construção civil anda sempre atarefada a fazer buracos e a tapar buracos, no meu entender.
Já pensei em me dedicar a exportar buracos, uma vez que a isso nos aconselham, mas tenho dificuldade em arranjar transporte para alguns, o custo é muito elevado e certamente no estrangeiro fazem os buracos mais baratos. Coisas da globalização e da falta de competividade. Outra ideia minha, que penso ser brilhante, era fazer um concurso televisivo sobre a possibilidade de fazer um determinado trajecto sem encontrar um único buraco, numa cidade. O vencedor teria como prémio uma viajem ao Brasil, com tudo pago (toma) acompanhado do autarca da zona. Assim se promoveria a aproximacão dos que vivem distantes do mortal cidadão, de que tanto andamos necessitados, segundo dizem os entendidos. Ou então para a Nigéria ou a Somália onde os buracos são idolatrados. Também pensei em fundar a Ordem do Buraco mas estou com difilculdades em definir os critérios de admissão.
Eu também estou com um buraco cá em casa, felizmente, porque me estou a ver aflito para pagar um conjunto de 152 utensílios de cozinha que a minha mulher comprou a prestações suaves com um juro de 36% mas, pelo menos, somos o orgulho da vizinhança quando os pomos em exibição, no nosso páteo.
E agora vou trabalhar porque o meu chefe já terminou a reunião importante com a Juquinhas, sua secretária, e que penso foi sobre os aumentos de ordenado para este ano, superiores à inflacção, como é costume. Connosco é assim.
Conselho do dia: A cair o sinal vermelho não se esqueça de travar em cima da passadeira, pelo menos meio metro. Os peões devem atravessar aos saltos. Melhoram os seus reflexos.
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