quarta-feira, novembro 05, 2003

A_tribu_lações

Ontem tive um pesadelo horrível. Sonhei que estava num grande salão, rodeado talvez de bispos e escutava alguém transmitir uma mensagem de Deus. Qualquer coisa como:
-Não vai haver mais nenhum céu para quem quer que seja; o mundo é mesmo mau, o homem não tem geito de se emendar e não quero saber mais de vocês para nada. Acordei, estremunhado, e só ouvia a minha mulher ressonar. Mesmo assim, fiquei preocupado. Então andavamos por cá só para funcionar como autómatos, sem sentimentos, sem culpas nem expiações, sem sonhos? E eu que pensava que já me andava a redimir dos meus pecados, há anos, aturando o meu chefe, sofrendo empurrões por todo o lado, pagando impostos exagerados (para eles nunca), perdendo tempo nas bichas (leia-se filas), pagando a médicos particulares contas astronómicas, ficando sem férias para pagar a dentadura, escutando comentadores desportivos ( logo dois) que me relatam o óbvio e me obrigam a ver o jogo sem som! E, não ficava por aqui, que a lista é extensa. Felizmente, o meu pai teve um aumento na pensão de reforma de 12 euros e anda todo contente, porque já pode fazer férias após dez anos de jejum, desde que se reformou. Creio que tenciona ir, finalmente, ver as gravuras de Foz Coa, porque, normalmente, só se entretem a ver os treinos do seu clube e a regalar os olhos com as obras na Casa da Música. Diz que a janela vai dar para ver o leão em cima da águia.
Também tive uma grande alegria ao saber que temos um campeão do mundo de todo-o-terreno. Na verdade, era uma injustiça. Então nós não estamos bem treinados a sobreviver em todo-o-terreno? Ele foi a ditadura, ele foi a outra ditadura (a do povo), ele foi o socialismo e o liberalismo, ele foi o o escudo raro e o euro escasso, ele foi a moeda forte, a inflacção e a moeda forte de novo, ele foi a abundância dos subsídios e a recessão, ele foi o pleno emprego já e a falta de emprego, ele foi a falta de escolaridade e o excesso de licenciados, etc. etc...Até me perco a pensar na nossa capacidade de adaptação a todos os terrenos.
Ah! Agora o que me faz espécie é não termos nenhuma campeã. Mas não tardará. Eu estou sempre a vê-las, na cidade, ao volante de grandes jeeps, com e sem caixa aberta, a caminho do shopping, de telemóvel no ouvido e bastante aceleradas. Suponho que, no intervalo das suas lides de transporte de rações e alfaias agrícolas ou outros objectos pesados da sua profissão, têm que ganhar tempo para seu embelezamento e nosso regalo visual.

Conselho do dia -Faça seu código de estrada pessoal. Os outros que se adequem à sua maneira de conduzir. Você merece.

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