Aqui estou eu, em Tordesilhas, aprendendo a falar a futura língua da Tribulandia e pago pelo santo do meu querido patrão (espero que ele leia isto). Eu que só gostava das touradas de Barrancos, que me enchiam de emoção uma vez por ano, delicio-me agora, também, com as tortilhas, a ausência da minha consorte e as parrilhadas de marisco.
Vieram-me convidar para animar um núcleo de resistência para passar esta terrinha linda para o lado de lá mas, depois de ver as maravilhas arquitectónicas que por aí proliferam, achei por bem estar tranquilo, e gozar um pouco do gosto dos nuestros hermanos. A minha mulher também está muito contente porque lhe mando, todas as semanas, a Hola, e ela diz que as fofocas são mais divertidas e mais ricas em detalhes.
Pelo menos, adorou o possível casamento do Príncipe com uma plebeia, coisa rara na Tribulandia, onde somos muito exigentes em questão de regime. Existem muitos reizinhos, mas Rei nunca.
Mas o que me levantou a espinha, foi saber que não perdemos, ainda, o culto do buraco e temos até um acontecimento inédito: uma cratera engoliu um autocarro. Eu já tinha visto, num jornal desportivo que ainda há fome no castelo, que creio ser de Guimarães. Parece-me que a capital não quiz ficar atrás e, zás, passou da fome a engolir um autocarro. Vários especialistas de buracos, internacionais, devem estar neste momento, desejosos de ver o fenómeno.
Um outro buraco foi herdado pelo Rio. Não faltava já o desaparecimento das areias para irritar a natureza, deixaram-lhe, de herança, a licença de construção ambiental, até ao mar. Em benefício da cidade e dos seus habitantes, que adoram também o cimento. O Rio saíu da margem como já tinha saído das Antas e proíbiu. Com isto, tenho receio de não figurarmos no Guiness com o record de mais cimento por metro quadrado, o que seria bem interessante. Amo, demais, passear numa rua sem sol, tranquilamente, sem luz a mais. E para que servem os parque naturais? Têm valor económico? Não existem tantos ginásios? O sol até faz mal à pele, dizem. Eu sempre sonhei com um arranha-céus de 180 andares junto ao cais da Ribeira. Não seria o mais alto do mundo?
Conselho do dia- Não corra nos parques naturais. Corra no seu carro a 230 km por hora, depois da meia-note. Verá que é bem mais saudável e excitante.
Pedro, em Tordesilhas. Sem camera man.
Gostam disto? Vão lá fora!
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