A odisseia do macaco da Tribulandia
Blog ou blogo social avulso divagante e irreal na sociedade e cultura moderna
O maestro Vitorino de Almeida", numa entrevista ao suplemento "Mil Folhas" de o "Público" declarou: "Como dizia o José Gomes Ferreira, o fascismo tem mil caras, e a ditadura também. A ditadura dos "lobbies" é um a ditadura como outra qualquer. Eles mandam, reprimem, atrofiam, só que têm outra cara. Estou na primeira linha para fazer a revolução. Não é o 25 de Abril, nem é com tanques mas é outro tipo de revolução. As pessoas da cultura vivem na clandestinidade."
Parece, afinal de contas, que os discursos caridosos e optimistas estão cada vez mais longe das realidades do dia a dia...
A leitura dos jornais, desta semana, trouxe alguns factos que merecem reflexão. Primeiro a condenação do ex-primeiro ministro Juppé e actual presidente do principal partido da maioria, por causa do financiamento ilegal de um partido RPR na década de 90. Depois a implicação nos mesmos factos do actual Presidente Chirac ao qual lhe vale a imunidade penal do cargo que ocupa para não estar em Tribunal. Também são referidas pressões sobre os juízes. Segundo, no caso Parmalat, vieram onterm a público as confissões do antigo director financeiro, Fausto Tonna, que implicam no esquema de entregas de dinheiro um ex-Presidente da República, Francesco Cossiga, segundo o jornal “Público”. Terceiro, o Relatório Hutton parece não ter sido muito imparcial e segundo o diário conservador Daily Telegraph para além das críticas do ex-director da BBC Greg Dyke que se declara chocado de o relatório ser tão preto no branco, uma sondagem revela que 56% da opinião pública acha que o relatório Hutton desculpou o Governo de forma injustificada, e que 67% confiam nos jornalistas da BBC e apenas 31 % confiam no Governo de Tony Blair.
Algumas dúvidas se instalam. Será que as mentalidades destes paíse ainda têm restos de “fascismo”? O que sucederia se estes ocupantes de cargos públicos acumulassem funções em orgãos superiores da Magistratura? Vão reformar o sistema de Justiça?
Parece é que nestes países, todos são iguais perante a lei, quando não há misturas.
Vejo o nosso Presidente a discursar numa sessão relacionada com as Comemorações do 25 de Abril. A certo passo, refere que existem ainda efeitos de mentalidade fascista que levam muitos a chamar “bandalhos” aos políticos. Que muitos consideram as leis como meras sugestões e não como normas para cumprir. Que os políticos cometem erros mas que são ampliados pela visibilidade a que estão sujeitos. Ainda que concordando com o o conteúdo central das afirmações não posso deixar de me interrogar sobre algumas deduções do raciocínio. È evidente que durante muitos anos fomos educados e vivemos debaixo de um conjunto de regras não adequadas a uma sociedade livre. Que tudo isso não se apaga com decretos e slogans bombásticos por muito democráticos que sejam. Mas será apenas o cidadão comum que guarda restos de pensamento fascista? Serão apenas os vulgares cidadãos que consideram as leis como sugestões? Todos os erros dos políticos são pequenos erros, normais no exercício de qualquer função? Foi o vulgar cidadão que queria nacionalizar tudo e caminhar para um colectivismo absurdo? È o vulgar cidadão que encaminha os destinos da nossa economia para um liberalismo para que não estamos preparados? São os normais cidadãos que pioraram o sistema de ensino? Quem sofre os principais efeitos da crise?
Entro numa livraria e discoteca, bastante conhecida e afamada. Percorro as várias secções de música e video. Procuro, a certo passo, discos de Renato Zero Zero. Dirijo-me a um empregado. Pergunto se têm algum disco recente do cantor. Faz uma cara de descrença, como se falasse dum artista chinês e desconhecido. Insisto. Vai ao computador e vê uma extensa lista de álbuns. Sim, têm muitos discos mas não existe nenhum na loja. E se o encomendar? Quanto tempo demora a chegar? Resposta: Três meses. Três meses para um disco vir da Itália? Em que local isolado me encontro? Talvez num espaço recortado de um sonho.
Escuto na televisão que Miguel Cadilhe, presidente da API declarou, em entrevista à TSF que considerava as despesas efectuadas na Expo 98, Europeu 2004, submarinos e mesmo com a realização das Capitais da Cultura como despesas pouco sensatas e que se o dinheiro tivesse sido aplicado na educação, saúde, investigação ou outros investimentos menos megalómanos e mais úteis os seus efeitos seriam bem mais positivos na Economia do país. Sempre tive essa opinião, e considero que muitos governantes seguem a política faraónica de quererem ficar na história, sem olhar para a melhor aplicação dos dinheiros públicos. Mas também é um facto que a maioria da população gosta de festa,e não entender os efeitos reprodutivos dos tipos de investimento, leva a justificar a acção do chamado “politicamente correcto”. Os foguetes estão-se a pagar, a crise está aí e as suas consequências parecem-me longe do fim. E a classe média que se acautele que pode ficar ensanduichada.
Daqui os meus parabéns a Miguel Cadilhe por sair do pântano dos silêncios convenientes e dos consensos.
O jornal “El País” considera que houve um empate intelectual entre os foros de Davos (Forum Mundial de Economia), o dos instalados,e o Forum de Bombaim (Forum Social Mundial), o dos marginalizados. Foca o protesto conta a sociedade dualista, a persistência da pobreza e a insuficiência do modelo liberal dominante bem como as escassa alternativas práticas deste último, apesar da maciça participação popular e das ONG. Parece assim continuar a haver um diálogo de surdos na humanidade. Uns tratam dos seus alhos e outros tentam não ficar sem bogalhos. De tudo isto, tiro que, embora meritórias acções deste género pouco ou nada alterarão o evoluir das situações. E de boas intenções está o Inferno cheio. Parece-me no entanto importante a participação em Bombaim de Joseph Stiglitz não só por se tratar de um Prémio Nobel da Economia como pelas importantes funções desempenhadas no Banco Mundial. Ele tem afirmado ao longo do tempo que o nosso sistema global é caracterizado por um conjunto de iniquidades e que parece ser extremamente importante reverter a situação; que a economia pode fazer a diferença na melhoria da vida das pessoas, focalizando a diferença ente os Que Têm e os que Não Têm; promove a ideia de investimento governamental em instalações públicas como escolas, aeroportos bem como pesquisa e afirma que as taxas de rentabilidade da pesquisa são muito elevadas. Transcrevo parte do seu discurso em Bombaim:
Bombaim, Índia, 19 Jan (Lusa) - O norte-americano Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia e antigo vice-presidente do Banco Mundial, considerou hoje que "a política económica não podia ser delegada aos tecnocratas das instituições financeiras".
"Não só (estas instituições) não conseguiram assegurar o desenvolvimento económico, como fizeram recuar a protecção social. A política económica não pode ser delegada aos tecnocratas dos bancos centrais ou das instituições financeiras internacionais", afirmou o antigo economista chefe do Banco Mundial, ao discursar no 4/o Forum Social Mundial (FSM).
"A política económica está no coração da democracia", acrescentou perante várias milhares de pessoas reunidas para um conferência intitulada "Mundialização, segurança económica e social".
"Um dos aspectos mais importantes da pobreza é a insegurança económica. É preciso reforçar a protecção social que não figura na agenda dos que falam de reformas económicas", prosseguiu o economista norte-americano.
Ao "tentar forçar os países a juntar-se à mundialização" neoliberal, as instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) expõem ainda mais os pobres à volatilidade dos mercados".
Quando uma voz autorizada como esta levanta estes problemas não seria de os considerar na aplicação seguidista de políticas liberais? Ou será que os nossos economistas também são meros tecnocratas? Talvez se pensarem que os modelos não são perfeitos e que a economia não é uma mera questão de deve e haver, nem de equilíbrios orçamentais, possam ter outras perspectivas. E parece-me que há demasiada contabilidade na Economia da Tribulandia.
Finalmente, na Tribulandia começam a aparecer os herdeiros de Miguel de Vasconcelos. Em vez do “Desejado”aparecem-nos fantasmas daquele que durante muitos anos foi considerado um traidor na história. Daí que espanta pouco o aparecimento de um editorial do “Expresso”, onde se diz que ser português é muito perigoso. Como pressupostos da análise, apresenta os como choques: a perda do império colonial, a transição da ditadura para a democracia, a abertura das fronteiras (economia), a perda da moeda. Tudo acontecimentos que os nossos esclarecidos dirigentes diziam contribuir para o nosso progresso e alinhamento com as nações mais civilizadas. Termina afirmando que estes choques que sofremos puseram em causa todas as nossas certezas. A Espanha nunca teve choques? Não teve uma guerra civil devastadora? Autonomias que ainda hoje reividicam a independência? Não sofreu uma transição da ditadura para a democracia? Não abriu as fronteiras? Não aderiu ao euro? Será que instalada a dúvida, o nosso amor próprio, os nossos valores e prioridades , ficam em causa, como diz? Mas não creio que o autor seja um daqueles fantasmas.
No caderno de Economia, e, para mim, mais em tom de desabafo do que de afirmação, um grande empresário português, mostra-se descrente das capacidades dos portugueses e diz que é melhor juntarmo-nos à Espanha. A frase é muito generalista, para meu gosto, porque, nos vários cantos do mundo, portugueses se têm afirmado em todos os sectores. E conheço o suficiente do mundo para o comprovar.
Seria fastidioso enumerar aqui as causas que tornaram o momento actual difícil. Mas de algumas coisas estou seguro. Que se existir bom senso, se aparecerem mais estadistas da estirpe de um Adriano Moreira, de Sá Carneiro, empresários que vejam mais além do que a piscina e o jacuzzi, financeiros que ganhem o dinheiro aqui mas não transfiram o capital para outras bandas e trabalhadores, que se sintam motivados e não tratados como produtos, vislumbrando um futuro mais tranquilo, a situação melhorará. Além do mais, enquanto houver um português a ler e sentir Fernando Pessoa e outros a esperança vai-se manter.
Segundo os jornais, continuam os graves problemas nas cadeias da Tribulandia
De repente, na Tribulandia, os duendes da política lançam qualque novidade para espicaçarem o sentido de curiosidade dos tribus. Incapazes de lançarem novas ideias sobre questões concretas da vida quotidiana dos mesmos, esboçam a imagem de um novo candiadato ou de uma quase certeza sobre a ocupação de determinado lugar (internacional) que pouco ou nada alterará a vivência real. E lá vem a fotografia (será paga com prebendas?), o sorriso de dentadura alinhada, a ideia que não existe outro candidato a não ser o tribu e a adesão entusiástica internacional . Podem até os outros candidatos serem da mesma família minoritária mas o nosso tem aceitação geral. Muitas vezes, vem depois a respectiva desilusão mas quem se lembra disso? Mesmo que a escolha resulte de os que votam não quererem um perfil muito marcado e capaz de os enfrentar, o nosso candidato é o ideal. Até se chega a afirmar que um bom currículo de primeiro-ministro não é sinónimo de qualidade. O nosso candidato, pelo menos, internamente é o maior. Quando não acreditamos numa candidatura, sai-nos um Prémio Nobel, como Saramago. E ficamos aborrecidos. Vá-se lá entender...
O Presidente Bush fez um discurso sobre o Estado da União.
Duas expressões durante a sessão. Mudarão ou ficarão iguais? O mundo aguarda expectante.
No Exacto João Mãos de Tesoura vem dar como encerrado um post seu sobre o segredo de justiça, concordando, inteiramente, com o que Vital Moreira escreveu sobre o tema. Fui ler (vale a pena ler tudo), e também concordei com o raciocínio explanado. Só que, no final, se encontra um aspecto muito importante que transcrevo:
“minha interpetação das leis vigentes (e não vejo que outra seja melhor), os jornalistas já estão juridicamene vinculados ao segredo de justiça, em termos até talvez demasiado amplos, como procurei demonstrar. Por isso entendo mesmo que é de limitar o excessivo alcance de uma restrição que já existe (embora não seja "praticada"...).
Pois é. A lei existe mas não ser praticada é, infelizmente, uma constante nos vários domínios da vida em sociedade, e estabelece uma diferença fundamental entre a teoria e a realidade.
Ruy Belo
UMA VEZ QUE JÁ TUDO SE PERDEU
Que o medo não tolha a tua mão
Nenhuma ocasião vale o temor
Ergue a cabeça dignamente irmão
falo-te em nome seja de quem for.
No princípio de tudo o coração
como o fogo alastrava em redor
Uma nuvem qualquer toldou então
céus de canção promessa e amor
Mas tudo é apenas o que é
levanta-te do chão e põe-te de pé
lembro-te apenas o que esqueceu
Não temas porque tudo recomeça
Nada se perde por mais que aconteça
uma vez que já tudo se perdeu
Na Tribulandia temos sempre motivo para rir. Basta abrir o jornal e é um festival de humor. No “Público” vem um pequeno artigo, por sinal bem escrito, diga-se,sobre “ O Desporto para Além do Óbvio” livro apresentado no Porto, na Fundação António Cupertino de Miranda.
Parece que um jornalista alertou par a necessidade de mudar a linguagem no desporto-rei.”Discutir futebol como quem discute literatura”, sublinhou. Dar oportunidade ao contributo de autores que procuraram abordar áreas como antropologia, filosofia, estética, cultura, educação, ambiente (estragam a relva?), cooperação internacional, demografia (bolas por km quadrado?), direito museologia, religião (uma nova?), saúde ( mental?), turismo, urbanismo e investigação científica (a trajectória da bola num livre de canto?). (!!!!!!!!!!!!).
Paulo Silva e Cunha, presidente do Instituto das Artes, debruçou-se sobre “ O Corpo que dança” da seguinte maneira: “ O palco, lugar convencional da dança, é um mapa comprimido, um mapa hiperdenso. Sobrepovoado de corpos, por todos os corpos que lá estão e por lá passaram, mas também sobrepovoado de ideias , de desejos, o desejo de estar no palco”
O jornalista, que não padece da doença das vacas loucas, graças a Deus, interrogava: “Futebol?”.
Não há dúvida que o futebol se transformou de desporto em poder, a seguir ao financeiro e ao dos media. Agora entendo porque algum ou alguns bispos andaram a falar com os presidentes dos clubes sobre a falta de fieis nas Igrejas. Eu julguei que era por falta de fé. Mas com tanta abrangência não demora nada o Prémio Nobel de Literatura e outros serão concedidos a treinadores, jogadores, massagistas, árbritos e roupeiros. E sobretudo gostei da imagem poética do último orador. Também passei a entender a magia do sobrepovoado de corpos.para não falar dos desejos...
Na Tribulandia o anúncio é uma arte mágica. Antes que possa fazer zapping, o anúncio aparece. Um jovem passeia num largo de uma praça antiga. Em redor, belos edifícos dão beleza ao local. O jovem vai discreto, andando. De repente, uma bola saltita. O jovem anima-se. Pontapeia a bola. A segiur, outro e mais outro tribu aparecem e começam a jogar. Receio pelos pacíficos vidros das janela. Espero a todo o momento um desastre. A animação continua até que um, mais habilidoso, dá um grande pontapé e quase acerta num arco, pelo menos centenar. Não ouço o barulho da bola a bater na parede, virtude actual dos controladores de som.
De novo, o orgulho da nação se levanta. Fala-se das vantagens para o turismo e o comércio. Anoitece e a praça fica vazia (prenúncio?). E a indústria? Essa vai vendo o encerramento das fábricas. Que tal incluir no subsído de desemprego uma oferta de aprender a jogar à bola?
Joaquim Letria, um jornalista respeitado, vem no “24 Horas” de 20 de Dezembro de 2004 tecer uma série de considerações sobre as Ordens e o seu prestígio. Se bem que discorde de alguns dos nomes apontados como grandes bastonários, o que me feriu a atenção foi o seguinte trecho, que vem depois de uma série de nomes, a propósito da Ordem dos Engenheiros, que mais parece uma lista de candidaturas a qualquer coisa.:
“Uns e outro foram políticos, ministros, gestores de alto coturno, administradores e empresários.Quase todos conseguiram notoriedade noutra actividade que não a de engenheiros. Apesar disso, oxalá esta gente consiga devolver aos engenheiros o respeito que um Duarte Pacheco.....e outros, a par da excelência do LNEC, trouxeram para a Engenharia portuguesa, em tempos hoje quase ignorados”
Fiquei apreeensivo. Serão estes gestores de alto coturno que conseguiram o actual “êxito” da nossa economia? Ou enganaram-se nos cálculos, por falta de prática de engenharia? E se não conseguiram notoriedade como engenheiros como vão devolver aos engenheiros o respeito? Resumindo: qualquer que seja a tarefa que executem estas personalidades, quer sejam ou não da especialidade, serão sempre importantes. Ainda bem que não resolveram ir para os hospitais operar...Ou será que a coluna de Joaquim Letria encarnou em Coluna Social?
Aí estão os frios números para ilustrar a falta de uma estratégia de desenvolvimento: 3000 falências em 2003 e a soma continua em 2004...Salários congelados, aumentos de 3,9 a 9% nos transportes, aumentos entre 5 a 30% nos principais bens de consumo...As bandeiras já não são de festejo de vitórias são de uma tristeza que nos vai invadindo a todos...Onde estão os sábios da economia para nos explicarem isto? Já não falamos para dar a volta a este assunto, porque vão ficar esperando qualquer combóio, de qualquer estação, para virem ufanos mostrar a sua sabedoria e o seu empenhamento.
Ontem, por breves instantes vejo a televisão e lá está um debate sobre a despenalização do aborto. Não vou manifestar a minha posição pessoal mas algo pretendo exprimr. Custa-me ver um problema tão grave que mexe com o nosso âmago, ser tratado em termos de esquerda/direita, a favor/contra a vida, ganhamos nós/ perderam eles. E por pouco se engalfinham ao derrimir argumentos em termos de fascismo ou progressismo. Cada um tentando convencer a plateia do valor da sua razão.
Qual será o cidadão normal, no pleno uso das suas faculdades, que seja contra a vida?
Só que temos que ser pela vida em todas as suas fases e situações. Não podemos ser pela vida na altura do nascimento, e depois fazer vista grossa quando essas crianças não têm acesso a carinho, a alimentação, a tratamento médico, a educação (incluindo a sexual) e a igualdade de oportunidades ao longo da vida. Nasceu e depois que seja o que o destino quiser. Quando morre um velho de frio no meio da rua quem é a favor da vida e da morte? Haverá divisão de opiniões? Mas fomos todos um pouco que lançamos o outrora menino nos caminhos da desgraça. Por diversas e múltiplas razões que o blog esgotaria sem as enumerar todas. Quando conduzem sem qualquer cautela e matam, quem é a favor da vida? Se a sociedade fosse mais justa e formativa, não haveria destes problemas pelo menos em tão grande quantidade. Mas não é. E ao enfrentar problemas reais temos, mesmo que nos custe, tentar eliminar o mais grave e criar condições para que algo de melhoria exista. Alguém gosta de guerra, no seu perfeito juízo? E se nos virmos em situação de defender algo que de que não se pode abdicar como seja a vida da nossa família? Cruzamos os braços? Dificeis dilemas enfrenta o ser humano ao longo da vida mas tem que agir segundo a sua consciência, sobretudo em relação aos seus problemas íntimos. Tendo filhos, imagino o que será a dor de quem tenha que perder um, por decisão própria. E sobretudo, entendo ser uma hiprocrisia o basearmo-nos num referendo anterior ( pouco expressivo), que, qualquer que fosse o resultado, não deveria ter sido aceite como expressando a vontade global, por qualquer um dos lados.
Que prevaleça o bom senso, que se minimizem os custos humanos e que os legisladores façam as leis com equilíbrio e as façam cumprir. E se tratarmos dos outros aspectos da vida com o mesmo entusiasmo, talves diminuam as interrupções voluntárias de gravidez, para alegria de todos nós, porque sentiremos que temos melhores condições para amparar, muito melhor, as crianças.
Nesta Tribulandia, como em tudo na vida, há honrosas excepções ao trivial e vulgar blah, blah, blah dos cronistas da corte. Refiro-me a dois artigos de duas Mulheres e Jornalistas que me fizeram reflectir, seriamente, com a sua escrita.
A primeira Clara Ferreira Alves, na revista “Única” que acompanha o Expresso no dia 20/12/2003, num artigo com o título: O ser português. Passo a transcrever uma pequena parte do artigo:
“......O tempo que perdemos até chegarmos aqui, esta histérica incompetência a que nenhum governo ou consulado consegur pôr termo. A estes comportamentos de uma gentalha que parece estar sempre à espera de ordens, de intervalos, de parêntises, de desculpas. Um povo atordoado pela farândola da Europa e que ainda não se habituou a deixar de contar de contar com os outros e a contar consigo.”
Subscrevo inteiramente.
A segunda,
Inês Pedrosa
“.....Os verdadeiros abusos de poder não se detectam – nem vão a julgamento, nem são condenados em tribunal.”
Dá que pensar...
Os artigos integrais valem a pena ser lidos. Podemos estar ou não de acordo com tudo, mas temos que reconhecer a sua clareza de raciocínio e elegância de escrita, sem faltar a argumentação lógica e sem necessidade de mascarar.
Exmo. Sr. Secretário de Turismo da Tribulandia
Com os meus respeitosos cumprimentos, venho por este meio expor a Vexa. um pequeno problema social que me atormenta a vida. Desde já, informo Vexa. que sou um fervoroso adepto do Governo que Vexa integra,
com todo o merecimento, assim como fui dos governos anteriores, pois penso que todos têm sacrificado o seu precioso tempo a bem de todos nós. Faço parte de uma iniciativa privada, sacrificada, em terras do interior, que nem sempre tem a compreensão dos poderes e sobretudo da imprensa, sempre disposta a desfazer. Sou o gerente de um estabelecimento de utilidade turístisca e social, muitas vezes, designado por buate, abreviadamente. Com a nossa actividade, estabelecemos o equilíbrio emocional de muitos chefes de família (basta ver as estatísticas de falta de afecto em casa), apoiamos os jogadores das equipas locais quando necessitam de alevantamento moral, árbritos que sofrem da vista, estabelecemos relações com muitos dos países de leste, através de intercâmbio cultural (divulgamos a língua mãe e aprendemos a delas), lançamos âncoras com o outro lado irmão do Atlântico, damos emprego e somos um farol na noite escura dos solitários. Ora, como é habitual em muitas empresas culturais e desportivas temos um pequeno problema com os impostos, estando já sujeitos a penhora dos nossos balneários que tanta falta fazem aos nossos clientes. Somos muito distraídos e, assoberbados com o trabalho, esquecemo-nos de alguns documentos e não liquidamos a tempo as nossas queridas obrigações. Acresce o facto de ter comprado um Ferrari para dar imagem à terra, sem qualquer subsídio, e as prestações são bastante pesadas. Nesta situação, venho sugerir a compra da Quinta das Almas Desamparadas, por um valor simbólico,. que me permita contrair um empréstimo num banco offshore, e pôr as minhas contas em dia com a colectividade. A quinta está desaproveitada como bem público, ninguém lá vai, e eu darei toda a utilidade ao espaço em causa, escusando Vexa. de gastar dinheiro com a manutenção. Aliás, o encerramento do meu humilde estabelecimento iria prejudicar a imagem junto dos turistas que aí virão para o campeonato, e não iria contribuir para a eliminação de tensões que os holliganos terão depois dos jogos.
A bem do turismo e de todos, espero a compreensão de Vexa., assim como a informação se posso requerer um subsídio para oferecer uns jipes a alguns dos meus dedicados colaboradores e admiradores de Vexa. Penso haver uma falha na lei neste aspecto. Tenho estudado muito direito, ultimamente e a justiça tem que ser aperfeiçoada.
Já me esquecia de dizer que a minha mulher diz que Vexa. fica muito bonito na televisãp mas eu acho que Vexa. deveria ir para comentador desportivo que, assim, chega, pelo menos, a ministro.
Seu fiel apoiante (colei milhares de cartazes),
Assinatura ilegível
Conselho do dia - Se alguém segurar a porta de um café para você entrar, passe imponente, sem agradecer ou fazer qualquer gesto atencioso. É certamamente alguém que está a treinar para porteiro europeu, encartado, e você já lhe fez o favor de passar por ele.
Como podem constatar para nós vai tudo muito bem!!!
ÁLVARO DE CAMPOS
(Fernando Pessoa)
Estou cansado, é claro
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto −
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente: eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto dá,
Que afinal a cabeça também serve para alguma coisa.
A Tribulandia repete o seu ciclo de retorno à sensaboria. Como? Através da nova programação do Canal 2. E.P.C. ilustre articulista do Público já por duas vezes veio a terreiro defender aquela programação e eu interrogo-me, porquê? Com uma conversa de oposição Estado/sociedade civil que eu não percebo, com umas ideias de elites e com uma tal D. Arminda que deve ser de suas relações. Face ao anterior, temos agora menos telejornal e pior ( em tons de verde crocodilo), um bom programa do Prof. Hermano Saraiva que já existia, um como o Bombordo, ideal para uma tarde de sábado, um concerto da BBC, sensaborão em televisão e inócuo, com uns senhores muito bem vestidos e compostos (devem ser as tais de elites), a Euronews que se pode ver noutro local, etc. , etc.... A mim o que me parece é que querem dar cabo do Canal 2. Ou adoram a cultura de salão para meia dúzia de iluminados. E a julgar por mim, para fugir ás telenovelas, aos concursos, e aos Big Brother, and so on, acabo na BBC. Óptimo, sempre melhoro o meu inglês.
Ao passar pelo SemanárioEconómico leio que uma auditoria da Ernst & Young revela para além do buraco financeiro registado, graves irregularidades.
“Pedro Burmester e Paulo Cunha Gomes são dois dos administradores da Sociedade que, com Teresa Lago, ficam comprometidos pela auditoria. A derrapagem financeira da Sociedade Porto 2001 situa-se nos 27,2 milhões de euros, face ao orçamento aprovado pelos accionistas, segundo um relatório de auditoria....”
“Irregularidades abundam. O trabalho realizado pela E&A aponta para um conjunto de irregularidades graves que vão desde o desaparecimento de bens,aditamentos sem comprovativo, pagamentos em duplicado, facturas por contabilizar, falta de registo de bens imóveis, custos de obras não especificados, atribuição de subsídios a empresas e instituições em que se desconhece os resultados, descontrolo total nos apoios mecenáticos (em que o mais intrigante é o do mobiliário Famo) e prestação de serviços sem contrato.”
Grande gestão e exemplo. Será que vão ser condecorados? Pelo menos uma homenagem merecem. Só o sacrifício que alguns fizeram ao por os capacetes de protecção, na cabeça, para os cartazes, vale o dinheiro gasto. E ainda dizem que não acontecem milagres...
Acabo de ouvir que no noticiário de uma televisão que nos manuais escolares, a seguir ao “Big Brother” vai ser incluído “ O Horóscopos” na interpretação dos “Lusíadas” de Luís de Camões. Uma esclarecida professora, não afectada pela doença da ignorância gananciosa, dizia que a obra exemplar não precisava de muletas para a sua interpretação. Se continua assim, ainda acaba por ser afastada por má influência sobre os alunos! Aliás é um esquecimento imperdoável não incluir “Os Malucos do Riso”, porque uma boa dose de humor ajuda a cair na realidade.
Ficam a faltar palestras com os autores e um número de telefone para esclarecer dúvidas.
Jon Stewart tem um programa chamado The Daily Show que é um exemplo de muito bom humor. Passa na SIC RADICAL em diversos horários.
Nada melhor para esquecer um dia Tribu...
Na Tribulandia temos uma maneira muito interessante de resolver problemas do futebol: dando voltas e mais voltas até perdermos o fio à meada. Assim todos ficamos contentes e nunca percebemos o início de nada. Senão vejam: segundo a imprensa, um clube compra um estádio por mil contos (cinco mil euros) a uma autarquia: mais tarde, o clube regista o estádio em seu nome para receber meio milhão de euros que a UEFA tem que pagar ao proprietário do terrenos pela disputa de dois jogos do Euro; a seguir o clube, apertado pelo fisco, dando como garantia o dinheiro a receber da UEFA, contrai um empréstimo para pagar dívidas e comprar mais um jogador. Resumindo a autarquia paga dívidas do clube ao fisco, compra um jogador e se calhar pagou outras dívidas. Mas não satisfeita com essa ajuda, celebra um Contrato Programa de Desenvolvimento Desportivo no âmbito do III Quadro Comunitário (QCA) através do qual beneficiou da comparticipação comunitária para as obras do estádio. Só que uma das condições essenciais para acessso à comparticipação financeira era a propriedade do terreno ou o direito de superfície. Resultado: a autarquia não se enquadra. Logo deve ser sancionada com a nulidade do contrato-programa. Se a Comissão Europeia não abdica da devolução do dinheiro a verba terá que ser reposta pelo Orçamento Geral do Estado! Voltas e mais voltas para ser o cidadão que paga impostos a pagar as bondades dos autarcas! Claro que nas rubricas com o futebol não há crise, nem o interesse público foi lesado, segundo o Procurador-Geral(????). Uma eventual soluçao é o clube colocar durante 25 anos o estádio ao serviço da população: ou seja emprestar um bem a quem o pagou. Brilhante!!! E porquê tudo isto? Porque o futebol entretém a malta, dá votos e sendo assim a utilidade marginal dinheiro gasto é total. Depois não venham discutir as propinas, queixar-se da falta de condições nos hospitais e que os funcionários públicos têm culpa de tudo. Quem quer festa paga. Já agora também paguemos os foguetes....Bendita crise. E a Comissão Europeia deve ficar com muito boa imagem destas andanças...
Não se pense que a Tribulandia é um país sem gente inteligente, preparada e capaz, em suma. O que lhe tem acontecido é que muitos lugares do poder ( tanto no sector público como privado) são ocupados em função da inteligência emocional ou capacidade mediática e aos seus detentores falta-lhes carácter, ética, humanismo, vontade ou capacidade de actuar. Eis a grande desgraça do buraco Tribulandia.
Ao ouvir a Rádio Renascença pela manhã, fui alertado por um tema que hálargo tempo me ocupa o pensamento. A maneira como a sociedade moderna trata os mais velhos. Mais uma vez, uma auditoria detecta falta de condições nos lares dos idosos. Já tenho visto imagens chocantes na televisão mas o problema continua.
Um comentador, com raciocínio claro e temperado pelo humanismo, deduzia que esta situação era fruto da falta de uma estratégia global e, ao mesmo tempo, do pensamento dominante nas camadas mais jovens que adoram a novidade e consideram os mais velhos algo sem valia que há que arrumar para qualquer lado e de qualquer maneira. Esquecem-se que muito do que disfrutam é resultante do esforço de gerações anteriores e que esta descontinuidade geracional também não é boa para o seu equilíbrio emocional; que o relacionamento entre os mais velhos e os jovens pode proporcionar uma transmissão de conhecimentos e de afectos que quanto a mim são insubstituiveis; que um dia também perderão o aspecto “Danone” e envelhecerão. Por esta mentalidade se gere também o discurso de muito político que, para atacar a Segurança Social, nos moldes existentes, aponta que as novas gerações não podem suportar este ”sacrifício”. Há, certamente, muita coisa a modificar mas os cortes bruscos nunca deram bons resultados na sociedade. A memória é curta mas a história aí está para ocomprovar, mesmo para os que, agora, sentados nos lugares cimeiros da pirâmide social se julgam ao abrigo das contingências que o futuro lhes pode oferecer.
Vejo os comentários no blog e vou dar uma volta. Passo pelo Exacto e sigo algumas pistas que por lá andam e me levam a sítios interessantes a maior parte das vezes. Desta vez fui parar ao causa nossa e entretive-me a ver o que lá escreviam algumas figuras dos nossos media. Independentemente do meu desacordo quanto a algumas opiniões, um post me chamou, particularmente a atenção : “Escrevem os leitores da Causa Nossa” e que passo a transcrever:
“Justica Penal no fundo”
“ A nossa Justiça penal bateu de tal maneira no fundo que nada nos surprenderá doravante! O modo atribiliário como se tem desenrolado o chamado Casa Pia “faz saltar as pedras da calçada”. Eu também acho que alguém terá de ser responsabilizado pelos arbrítios neste inquisitorial processo....”
(AAG)
“Justiça é preciso outra”
“Sobre a Justiça: está num estado de tal maneira comatoso que tudo o que ajude a pô-la
completamente de rastos, eu aplaudo! Quem lida com ela diariamente, há mais de um quarto de século, sabe o que valem 99,999% dessses Magistrados/as que abusam solerte e quotidianamente do estatuto de irresponsabilidade de que gozam.”
(JA, Advogado)
Pasmo. As violações não faziam saltar as pedras da calçada? Tudo muito silencioso como convém. A Inquisição voltou agora? E que métodos de tortura estão a usar? Se vamos pôr a Justiça de rastos o que vai restar? A lei do mais forte? 99,999% de abusadores do estatuto de irresponsabilidade? Credo. Abalem, abalem tudo. Sobretudo a nossa última garantia de liberdade efectiva.
Por acaso foram os juízes que fizeram as leis que nos condicionam? Foram os Juízes que puseram a economia do país de rastos? Foram os Juízes que foram em serviço às finais da Taça? Foram os Juízes que puseram o Ensino num caos e a nossa juventude sem perspectivas de futuro? São os Juízes que têm as contas irregulares há décadas? Foram os Juízes que levaram as mulheres a passear ? São os Juízes que fazem promessas que nunca são cumpridas? São os Juízes que esbanjam o dinheiro público e depois nos carregam de impostos? São os Juízes que colocam tanto incompetente? E por aí adiante...
Conselho do Dia Ao atravessar a passadeira com o sinal vermelho, vá devagar e calmamente sem olhar para os lados. Não dê confiança aos condutores distraídos e faça ouvidos surdos às buzinadelas. Faça valer os seus direitos.
A minha fonte de segredos ( que exclui a justiça) veio ter comigo muito excitada. Parece que o professor Dizamen ( famoso economista) elaborou um plano que está a acolher grande aceitação pela parte do Governo. Explicou-me ele, que de acordo com as modernas teorias do “Deixa andar que logo se vê” o professor vai propor a privatização dos sanitáriso públicos, fontanários e coretos de jardim. Tendo em linha de conta o alto interesse para o consumidor e a eliminação de resquícios socializantes que pairam ainda na Tribulandia. E como será isso feito? Informou-me que uma grande multinacional chinesa, especializada nas lojas dos 100, está fortemente interessada e aceitará uma participação de 5% de empresas tribulanas para manter o equilíbrio de capitais (?). As instalações sanitárias serão todas remodeladas, passando a ter ar condicionado, música ambiente, jornais e revistas chinesas para quem espera vez, atendimento personalizado e ecrã gigante para transmissão de jogos importantes e discursos de políticos. As cabines individuais terão auscultadores com vários géneros de música, autoclismos silenciosos, paredes à prova de som e papeis higiénicos de diversos tipos e cores. Haverá três categorias de cabina : remediada, média e VIP. As de categoria VIP terão secadores de cabelo, duche individual e perfumes estrangeiros. Para evitar as famosas inscrições em portas e paredes haverá no hall paineis com canetas de grafitti para os que desejarem darem largas à imaginação linguística. Haverá um prémio anual para as melhores frases cujo alvo seja: Governo, Miquinhas, Polícia e Vai-te.
Claro quer tudo será a pagar ( Milton Friedman:"theres is no free lunch") mas os mais necessitados terão comparticipação da assistência social. Prevê-se ainda um sector de massagens (não eróticas) e aconselhamento para pacientes com problemas de diarreia mental. A apresentação do plano detalhado será feita num centro de congressos e virão personalidades de todos os quadrantes com especial relevo para as entupidas. E por hoje ficou-se, sem me dizer nada sobre os fontanários e coretos. Até que enfim, vão terminar as filas de espera.
Ontem, fiz um pequeno reparo sobre as contas dos partidos, utilizando algum humor. Há pouco ao ler o “Público”, do mesmo dia, não consigo resistir à tentação de transcrever uma parte du um artigo de Luciano Alvarez, em Semana Política, que me parece bastante elucidativa sobre a questão.
“Qual bom nome?”
"Face às irregularidades graves nas contas partidárias agora reveladas, e que pouco divergem das de uma taberna gerida por um comerciante desonesto, ninguém na classe política se indignou. Ninguém se levantou a pedir um Conselho de Estado para colocar fim a esta vergonha que fragiliza a democracia. Ninguém pediu regras mais apertadas para os partidos de forma a acabar de vez com este circo imoral, que é bem mais grave para a imagem e o bom nome de um qualquer político do que ter a sua fotografia num álbum de identificação da Polícia Judiciária"
Visto, lido e aprovado. Sem mais.
CECÍLIA MEIRELES
O Transeunte
Venho de caminhar por estas ruas.
Tristeza e mágoa. Mágoa e tristeza.
Tenho vergonha dos meus sonhos de beleza.
Caminham sombras duas a duas,
Felizes só de serem infelizes,
E sem dizerem, boca minha, o que tu dizes...
De não saberem, simples e nuas,
coisas da alma e do pensamento,
E que tudo foi pó e que tudo é do vento...
Felizes com misérias suas,
como eu não poderia ser com a glória,
porque tenho intuições, porque tenho memória...
Porque abraçada nos braços meus,
porque obediente à minha solidão,
vivo construindo apenas Deus...
Dia cinzento, chuva miudinha. Convite para ficar em casa ouvindo música. O pior é que não paramos de pensar. Basta passar os olhos pelo jornal e os pensamentos espraiam-se pelo que nos rodeia , lá fora. Derivamos para a web.
Sózinhos, sentimo-nos ligados a uma cadeia indefinida de outras mentes que nos garantem espiritualidade.Uma palavra amiga, aqui e acolá, incentivam-nos a participar na ciberesfera. A incomunicabilidade desfaz-se em pequenas partículas. Passamos por outros blogs e vemos “cabeças” cheias de coisas bonitas. Opiniões, fotografias, poemas, pensamentos e grafismos com qualidade constituem uma galáxia, que me parece protegida da muita fealdade que povoa a nossa sociedade. Fazem já parte do meu quotidano e alimentam a minha imaginação. Desconhecidos e tão perto. Caminham a meu lado, na procura de um mundo um pouco melhor, na diversidade que nos complementa.
Depois de 30 anos de democracia, as contas dos partidos continuam irregulares...
Pelos vistos, os técnicos de contas são avessos à política...
Há muito tempo que se falava de uma remodelação no canal 2 para o melhorar quanto à programação e permitir uma maior intervenção da sociedade civil (?). Como sempre as reformas na Tribulandia são para pior e eu, habitual espectador daquele canal, comecei por desconfiar e até pensar que se continuasse como estava não era nada mau, no meio da pobreza de programas que infestam o pequeno ecrã. Boas séries americanas, bom humor inglês, boas entrevistas com intelectuais fascinantes e alguns bons filmes. No dia 2 do corrente, no Público, Prado Coelho lança algumas esperanças sobre o desenvolvimento destas mudanças. Pouco ainda vi, mas reparo que a programação para além de encurtar o Jornal 2, passa a transmitir diariamente a Hora Discovery, em horário nobre, Euronews que já víamos repetidamente ao longo do dia, Televendas (?) e Bombordo (?). Não critico a validade dos programas mas ainda não vi nada que não me pareça ter um carácter de “cultura” inócua e relaxante. Quem não quiser dormir que vá ver telenovelas, futebol ou séries de 3ª. Penso que se acabou o tempo dos “Sopranos”, do “Allo, Allo!” e do “Yes, Minister”, para além de outras. Só me resta ir à loja de vídeo e alugar um filme de jeito, depois de uma hora a percorrer as estantes.
Jornal TVTribu. Um célebre caso de violação de crianças continua a marcar o ritmo da Tribulandia, terra sem outros problemas. Um advogado chega carregado de malas com documentos. A jornalista conclui: muitas malas, muitos argumentos. Brilhante. O advogado que não sabia disso, deveria ter trazido, pelo menos uma carrinha , bem recheada de malas. Chamam às malas passaporte para a libertação!!! A seguir um congresso sobre objectividade científica. Opinião de um congressista: deveriam participar peritos “independentes” na avaliação, gravada em vídeo, dos testemunhos porque os psicólogos que acompanham as crianças não são independentes e é difícil apurar a verdade. Sobretudo a verdade que não interessa. Depois um proeminente médico-legista parece que disse que os exames de violação, passadas as 72 horas não são conclusivos! Em suma: um menor de tenra idade que seja violado e não possa fazer exame dentro das 72 horas é melhor ficar calado até ao fim dos seus dias. A Justiça também tem prazo de validade, como qualquer produto.
Devemos, uma vez mais concluir, que todos os estão encarregados de aplicar a Justiça ou são tontos ou mal intencionados. Mas claro, se assim fosse, esta questão já tinha sido abafada e continuaríamos a ouvir elogios à Magistratura! Será que a TribuTV quer ser a última instância de recurso?
O governador do Banco de Portugal afirmou hoje no Público que o rendimento disponível dos particularesvai aumentar em 2004 e 2005, devido ao abrandamento da inflação. A regular pelo aumento da carcaça e de outros bens de consumo está a ser difícil acreditar neste milagre. Falta saber de que particulares se trata.
O Governador considerou que o défice orçamental elevado sustentou a actividade económica. E isso é bom ou mau? Estou a ficar baralhado.
Quanto ao desemprego admitiu que a situação se pode agravar este ano. O Banco de Portugal não publica previsões quantitativas sobre esta matéria. Mas vamos esperar que as coisas possam melhorar a partir de 2005, disse. É, temos que ter fé na Providência Divina. Será que esses desempregados não entram naqueles particulares?
Segundo informações do meu barbeiro o Comité Olímpico da Tribulandia prepara-se para se candidatar à organização dos Jogos Olímpicos. O meu megalomanómetro, o loucómetro e o despesómetro começaram a atingir valores preocupantes comparados com anos anteriores. Prevêm-se fortes oscilações na frágil estrutura financeira tribulana.
Uma das coisas que mais me impressiona na Tribulandia é o culto da hipocrisia (do grego hypokrisia, dissimulação). Povo de brandos costumes procura na aparência a ausência de conteúdo. Basta olhar para muitas atitudes “revolucionárias” do pós 25 de Abril, extremistas e de esquerda, querendo ir até à nacionalização de tabacarias, abandono de Porches por motoretas, linguagem eivada de chavões e tanta, tanta asneira aplaudida para não perder o combóio. De repente, pacíficos burgueses transformados em incendiários. Mas, milagre dos milagres, aí estão eles de novo, fervorosos adeptos do liberalismo, discursando com a maior ligeireza sobre os benefícios do mercado. Os mais equilibrados eram reaccionários para eles e agora são retrógados nacionalistas. Fazendo bandeira da globalização estão dispostos de novo a tudo vender, inclusivé a alma, coisa que duvidam ter. São os novos materialistas.
Fizeram as asneiras que nos enterraram e vêm agora, esquecendo tudo, trazer as soluções maravilhosas. Destruiram o edifício do ensino, pedra sobre pedra, alimentaram um consumerismo descabido, nunca se importaram com o estado das prisões, pregam moral, cheios de podridão, a prisão preventiva era boa para os outros, as escutas também e acham-se acima de tudo e de todos. Até choraram muito por Timor para aparecer na televisão. Vai ser um problema quando os seus 15 minutos de celebridade terminarem.
Segundo vi hoje no Público o deputado Manuel Alegre propõe reunião urgente do Conselho de Estado sobre Casa Pia. Plenamente de acordo. E porque não por o Exército em Estado de Alerta Máximo?;chamar os os nossos aliados na NATO; pedir ajuda militar aos USA; ver se entregam mais depressa os submarinos; fechar as fronteiras e por aí adiante. Parece que se começa a confundir pessoas com Instituições. L´État c´est moi! Mas aonde já li isto?
Relógio alto. De pêndulo. Por apertos de espaço, colocaram-no próximo da janela que dava para o jardim. Manhã de Maio, uma rosa se abriu. Húmidas as pétalas recortaram no ar o brilho amêndoa, a pureza e a ternura dos mais belos olhos do Mundo. Da janela o relógio olhou-a e parou. Deram-lhe corda e parou. O relojoeiro veio e parado continuou. À meia noite, um poeta, disfarçado de ave noturna, entrou na caixa do relógio e descobriu que estava enfeitiçado. Um êxtase de contemplação pura. E até hoje, segundo consta, nenhum conserto o tirou da sua contemplação.
LUÍS VEIGA LEITÃO -1912-1987
Paro cerca do semáforo. Adiante, o pedinte habitual vem de boné na mão e tremendo como molas desconjuntas, fruto de doença que não sei classificar. Uns abrem a janela, outros, a maioria, não. Chega a mim ainda parado. Abro e entrego a também habitual moeda. È educado, agradece e faz sempre votos de um bom dia ou noite. Sai para o passeio, à espera de nova rodada. Chova ou faça sol. Arranco com a consciência mais pesada. Eu nem gosto de caridade. A seguir um pensamento maldoso: E se, por razões que não vislumbro, um desses políticos, emproados e poderosos, passasse naquele posto um dia apenas? Talvez se resolvessem alguns problemas mais depressa. Quem sabe?
Outro dia vi um inquérito em que a maioria dos inquiridos cassificava o terrorismo como principal ameaça da humanidade. E as 24000 pessoas que morrem por dia de fome ou causas relacionadas (74% das quais são crianças)?
The Hunger Site
"All you need is ignorance and confidence; then success is sure."
Malfadadamente, continuo a espirrar e a tentar fazer blog. Sento-me, confortável, aquecedor ligado, e parto à aventura de mergulhar no mar das notícias televisivas. Seguramente, a febre não baixou. Malditas pastilhas. Dolente, não faço zapping.
Uma entrevistadora interroga um juiz... que o colega não era juiz natural e que portanto todas as suas decisões podiam ser anuladas! Dá a entender que os juízes podem não saber o que andam a fazer. Ela sabe, claro. Tenta transformar questões formais em questões de conteúdo. O que é preciso é instalar a dúvida, logo meio caminho andado para pressionar antes de alguém ser julgado. Chego a pensar que existem juízes artificiais ou clonados. Credo. Teríamos sido invadidos por extra-terrestres?
E o que virá a seguir?: As lentes dos óculos do juiz estão mal calibradas? O juiz teria perdido folhas do Código? Não será que ele um dia qualquer pôs a moto em cima do passeio? Será que ele é masoquista e gosta de ser massacrado pela imprensa? Terá, porventura, calos por tratar, e despacha com dores nos pés o que pode provocar uma interpretação distorcida das leis? Teve sarampo em pequeno? Bebe demasiado café?
Anda a tentar ficar com o processo até ser velhote para ter que contar aos netos?
A seguir, outros mediáticos juristas dizem de sua justiça. E qual é a sua táctica, perguntam? E se for assim, não será assado? E se for cozido? Eu cá por mim, fiquei com a ideia que utilizarão um 4x3x3, um 4x4x2 ou todos ao molho e Deus por nós todos, que bem precisamos.
Lembram-se deles? As séries 1,2 e 3 estão à venda em DVD. São um exemplo de bom humor.
Yes-Minister "Em política, temos de estar atrás de alguém a apoiá-lo antes de lhe podermos dar uma facada nas costas!"
Alguns economistas e comentadores económicos são muito engraçados. Parece que andaram todos na BBC na série “Sim, Sr. Ministro” . Têm um dom para adivinhar o futuro que só visto. Li um afirmar que a economia portuguesa crescerá 4% em 2007. Outro que se os últimos três ciclos se repetirem teremos uma nova recessão em 2013. Ainda gostava de ver os cálculos efectuados para chegarem a tais valores... Entretanto, um famoso economista António Borges declarava a um jornal " Tal como fomos surpreeendidos pela recessão vamos ser surpreendidos pela retoma" ... E agora?
Ah, também gostava de saber se costumam ir aos supermercados fazer compras. É que a taxa inflacção verificada nos produtos que utilizo anda muito longe das pequeninas percentagens que eles anunciam (3,5% ?)...
As aspirinas ainda não fizeram o seu trabalho. Entre espirros e tosse, divirto-me a ler os jornais de fim de semana. Fico muito com muito melhor disposição. O ”Expresso” em Sinais positivos para 2004 refere que “Este ano traz boas notícias para os consumidores portugueses em matéria de factura energética. A partir de 1 de Janeiro, é liberalizado o preço dos combustíveis, cujo tecto máximo deixa de ser fixado pelo Ministério da Economia. Espera-se que as petrolíferas estabeleçam uma verdadeira concorrência no mercado, através da prática de preços diferentes - o que levará à sua descida.”.
Entretanto, lembrei-me duma notícia que tinha visto sobre Economia e que referia o aumento pela BP do litro da gasolina sem chumbo 95 de 0,95 cêntimos para 0,96 e da gasolina sem chumbo 98 de 0,98 para 1,025 cêntimos. Vi ainda que acordo com a edição desta sexta-feira do Diário de Notícias, alguns postos da Shell também agravaram os preços. Desde quinta-feira que vários bens essenciais subiram de preço, entre os quais a electricidade, a renda da casa portagens e o pão.
Aqui temos a concorrência a funcionar...
Como diria o poeta “Excusez un peu...Que grande constipação física! Preciso de verdade e de aspirina”. Depois de uma passagem de ano tranquila, onde a alegria do espumante e das uvas passas do desejo nos apagam da memória tantos e tantos momentos de tristeza, dou por mim a reparar que quase tudo se imobilizou, mesmo fora dos dias festivos. Doce nada fazer, dos nossos encantos. Se a tendência continuar, talvez os nossos sonhos demorem mais tempo a serem concretizados. Faço uma macro-foto para vos dar conta que muitos, na blogosfera, que eu admiro, vão alimentando esses sonhos. Decerto, notaram a sua menor qualidade. Mas a intenção ficou. Lembro-me da velha história da cigarra e da formiga. Só que nos tempos de hoje, as cigarras são mais do que muitas e as formigas andam aflitas para sustentar tanta reinação. Ele são multidões a votar, autocarros a circular em campanha, balões para angariar votos e histerismo para adivinhar o vencedor. Isto e o sonho de ganhar o 2004.
E que sonhos alimento eu? O de uma Tribulandia mais equilibrada socialmente, onde os nossos maiores orgulhos estejam nas suas escolas modelo, nos seus hospitais de vanguarda, na competividade tecnológica das suas empresas, no aprofundamento da sua cultura ímpar, e tão subjugada, às vezes, a valores estranhos, no seu civismo do quotidiano, no não abandalhamento de uma História que pode confrontar-se com qualquer outra, e acima de tudo na aposta clara nessas gerações jovens que tanto podem dar mas que se procura alienar, de vários modos e feitios. Depois podem vir os outros êxitos. Alguns dos que isto lerem, dirão que me passei com a aspirina. É natural. Ainda não deixei de me sentir primeiro português, depois europeu e depois globalizado.