Nunca gostei muito de tecnocratas. O tecnocrata tem uma visão reduzida do mundo e ao actuar na comunidade em diversas funções, exerce-as, muitas vezes, sem se preocupar com os efeitos laterais e, nomeadamente sociais, que as suas decisões acarretam. Conheci muitos e, por via de regra, a sua vida é muito pouco rica em termos humanos que não em bens materiais. A decisão técnica é tomada em face de números ou sistemas abstractos e raciocina-se como se os efeitos fossem mecânicos. Ora, a economia é uma ciência social (ou técnica) e neste mundo abundam os tecnocratas. Este intróito, vem a propósito de uma entrevista dada ao jornal "Público" por Hernâni Lopes, pessoa considerada dos "milieux" da finança. A entrevista merece ser lida mas a determinada altura HL diz "O modelo social europeu ou muda ou desaparece". Isto em título. E começa aqui o meu desacordo. Que pode mudar e evoluir creio que sim;
que possa desaparecer, creio que não. Mais adiante nas respostas, vem o gasto argumento do passar de uma população jovem a uma população envelhecida - mais velhos e menos crianças - "em que tinha o PIB a crescer 5% para outra em que cresce dois e meio, de um tempo em que tinha pleno emprego para um tempo em que tenho desemprego endémico e, por fim, de uma época em que a economia era altamente competitiva para outra em que tem dificuldades de afirmação a nível mundial, e pensar que tudo pode ficar na mesma." E porquê o desacordo?
Primeiro- Se há mais velhos isso reflecte por um lado o prolongamento da vida o que é bom, a menos que qeiramos que se morra mais cedo, e por outro lado uma diminuição de natalidade provocada por vários factores entre eles as condições criadas à mulher trabalhadora, nas sociedade mais avançadas, não sendo acompanhada essa tendência em países subdesenvolvidos, como sabemos. Só que nos segundos não há condiçoes para essas crianças viverem. E de quem é a culpa? Dessas mulheres e dessas crianças que morrem todos os dias? Depois, quem criou a riqueza que existe?
Os jovens ou essa geração que agora é velha? Nem do ponto de vista económico aquele argumento tem cabimento. A menos que seja um Malthusiano...
Segundo- Essa da diminuição do PIB em termos percentuais é muito curta em termos de explanação. Teríamos muito que dizer da utilização dos números "tout court" e das suas causas. Quem incentiva o consumo irracional? Quem investe em activos especulativos sem criação de riqueza física? Iríamos longe.
Terceiro- Nunca houve pleno emprego.Nunca o mercado foi um modelo perfeito. E o que se fez para adaptar o trabalhador à evolução? Como se gastou o dinheiro da formação? Algum fantasma?
Quarto - A economia portuguesa sempre foi competitiva a nível de salários baixos e não a nível tecnológico. E porque não tem afirmação a nível mundial? Por nós, pela incompetência de muito dirigente e político.
Quinto - Agora para safar a onça, vamos numa de aflição de mudança o que pode significar que a geração mais velha, que não tenha reformas chorudas ou seja rico, fique sem assistência médica, sem internamentos,sem qualquer qualidade de vida para que o orçamento se equilibre. Porque mudança significa, neste país, tirar tudo a quem mais precisa, pesem as palavras mansas dos tecnocratas.
Deixamos uma última nota ao entrevistado: sabemos que as estratégias estão a começar a mudar a nível internacional e é bom que esteja atento porque vêm aí desenvolvimentos do que pensam os grandes teóricos da economia mundial. Para bom entendedor...