sexta-feira, junho 25, 2004

A emoção fácil da Tribulandia

Passo pelo Causa Nossa e debruço-me sobre um post Patriotismo Futebolístico que remete para um artigo de Luís Nazaré no Jornal de Negócios. Por definição patriotismo é o amor da pátria, país em que cada um nasceu. Mas ficará por esta definição tão reduzida? Pensamos que engloba o amor e orgulho pelos nossos antepassados, pelos nossos compatriotas, pelos nossas crianças, pela nossa cultura e costumes, pela nossa civilização, pelo nosso grau de humanismo e de solidariedade com todos os que perseguem um conjunto de valores que apontam para a dignificação do ser humano. A definição poderia ser extensa e muito mais elaborada que nunca seria perfeita. Mas reduzir patriotismo ao factor futebol e ao factor económico parece-me extremamente redutor. Serão patriotas os que investem no estrangeiro? Podem ser, desde que o seu objectivo seja contribuir para a capacidade competitiva da sua nação e mostrar ao mundo a sua capacidade de realização. Não são patriotas os empresários que só investem em Portugal mas não dão condições de trabalho aos seus empregados e esbanjam fundos públicos em pseudo acções de formação? Claro que não são. No futebol, onde abundam os mercenários, sabemos bem como alguns dos heróis actuais defenderam já a camisola nacional. Depois da revolução ser patriota era sinónimo de fascismo. Muitos quiseram comunizar o país à força e quando os ventos mudaram entregá-lo a uma liberalização acéfala. A importação de usos, costumes e cultura alheia é massiva e a descaracterização da nossa sociedade é mais do que evidente, tudo em nome do lucro. Não procedemos a uma descolonização: saímos. Abandonamos os naturais que combateram ao nosso lado à sorte: foram dizimados. Damos uma imagem negativa da nossa actuação nas colónias e apoiamos aliados que fazem coisas muito piores. Conduzimos negociações de adesão à comunidade europeia sem grande exigência ao contrário dos espanhóis, por exemplo. Abandalhamos o ensino em vez de o aperfeiçoar. O nosso sistema de saúde mete água por todos os lados. Um dos nossos maiores escritores teve que ser reconhecido por Espanha para conseguir ganhar o Nobel. Insere-se o Big Brother como matéria escolar. A nossa comida tradicional, embora de qualidade, é cada vez mais abandonada. O tecido empresarial afunda-se em crescentes falências e já um político afirmou em público que as nações podem acabar como qualquer outra instituição.
O futebol é um espectáculo profissional, excitante, interessante quando bem jogado, onde gira muito dinheiro (parte público), inserido numa grande campanha de marketing, e que permite a descarga primitiva de frustrações. Alguém se manifestou com as medalhas ganhas por deficientes nas Olimpíadas? Esperamos ver também a bandeira nacional em estabelecimentos de ensino, hospitais e teatros de excelência, e em empresa competitivas nacionais e que sejam sinónimo de bem estar do nosso povo.



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