segunda-feira, junho 21, 2004

Vale tudo na Tribulandia

Público

Figo e a Senhora do Caravaggio
Por ADELINO GOMES

"Primeiro foram aqueles publicitários de um banco de renome, a prometerem fazer os gregos "em ruínas". Veio depois a Federação Portuguesa de Futebol, a pedir que os adeptos acendessem velas.
Seguiu-se a devoção do treinador Scolari, que mandou trazerem-lhe uma imagem de Nossa Senhora de Caravaggio lá do seu Rio Grande do Sul.
O problema é recorrente: a selecção nacional dá-se mal com o excesso de confiança. Perdidos os jogos fáceis, aos jogadores não resta se não ganharem os jogos difíceis. E é aí que tudo vale: as velas da Federação; a Senhora de Scolari; os gritos dos relatores desportivos "Às armas!Às armas! Pela Pátria, ganhar!"" (sic, ontem a poucos minutos do jogo, na Antena 1 portuguesa); os conselhos a que se usem ("24 Horas" dixit) pitons de alumínio e "bem altos"; e as ameaças do "mata, mata", mesmo a pedirem transcrição literal (sem contextualização que explique) dos enviados especiais da imprensa espanhola.(...)"
E pronto, ego inflaccionado por mais 15 dias. Com a mesma sem-razão que, fosse o resultado outro, milhões de portugueses se interrogariam neste momento sobre a sobrevivência mesma da nação.
Para muitos (demasiados, receio) que a comemoram ainda, a fabulosa vitória deveu-se às velas, à Senhora, ao Quinto Império. Ameaçando perpetuar por mais uns campeonatos europeus (e mundiais, a Coreia esteve aí a demonstrá-lo) esta dualidade psicológica que tanto nos alcandora aos píncaros da euforia gabarola e presumida como nos mergulha na mais tola das prostrações anímicas enquanto país."

Depois de tanta campanha de intoxicação à qual é difícil de escapar (televisão, rádio, jornais, publicidade, utilização dos chavões futebolísticos em todas as áreas, etc) verificamos que ainda existem pessoas lúcidas no meio destas paixões "nacionalistas" exageradas por um objectivo desportivo.

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