quinta-feira, dezembro 02, 2004

Das palavras às obras vai uma grande distância

Público
A Cidade Que Vem de Baixo
Por LUÍS FERNANDES

Voltemos ao Bairro da Fábrica da Areosa. O episódio revela as dinâmicas de desigualdade, o domínio dos fortes sobre os fracos. Se estes moradores tivessem à sua porta um mercado de drogas televisionável, se soubessem organizar uma arruaça ou expandir as energias num motim, já lá teria ido a TVI e, por vergonha, talvez algo tivesse acontecido. Desprovidos destes recursos da moda, procuram convencer Rui Rio a corrigir o PDM naquele ponto, considerando o bairro imóvel de interesse patrimonial. Num abaixo-assinado que lhe enviaram pode ler-se, a dado passo: "Querem-nos tirar daqui para construir um qualquer complexo habitacional que poderá gerar milhões. Mas não é de milhões que as cidades são feitas, é de pessoas. São pessoas como nós que fazem esta cidade. Pessoas que se orgulham em serem o Porto." Rui Rio tem agora uma oportunidade para provar que o destino dos fracos é de facto a sua prioridade política, como gosta de afirmar. E de reabrir a luta que começou a propósito da zonas das Antas no início do seu mandato, provando que, com ele, os "lobbies" da imobiliária não têm sorte. Que rica ocasião!

Duvidamos muito. Das palavras às obras vá o Diabo e entenda-os. Aliás vêm aí eleições e cremos que o lobby imobiliário pesa mais do que o voto no dia marcado dos outros cidadãos.

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