quinta-feira, dezembro 30, 2004

As diferenças entre a forma e o conteúdo na Tribulandia

Público
José Sócrates
Por EDUARDO PRADO COELHO

Sócrates começou por ser uma personagem polémica, em confronto com Manuel Alegre. Não sei se Alegre pensou alguma vez em ser secretário-geral do PS. Mas tinha pelo menos um objectivo: manter no interior do partido uma ideia de esquerda, uma tradição, uma memória, um conjunto digno e vertical de princípios. Procurando evitar que se fizesse uma deriva, e que alguma esquerda, de que Mário Soares poderá ser hoje o representante mais visível, ficasse em situação de naufrágio, ou escolhesse outras opções de esquerda, à falta de melhor (se é que elas existem).
(...)
O Partido Socialista corre um risco óbvio: dar-nos a imagem fatigada do "já visto". As listas para deputados não são nesse plano particularmente entusiasmantes. São os mesmos nomes nos mesmos lugares. Talvez sejam os nomes que podem ganhar - não sei. Mas não são certamente os nomes que vão trazer uma outra imagem da política, uma outra forma de mudar a vida e o quotidiano de cada um de nós, uma outra ideia de esquerda. Será imprescindível combinar um certa aceitação das concessões ao aparelho com uma efectiva transformação da imagem da política. Porque doutro modo os portugueses verão o mesmo do mesmo e acabarão por pensar que a política é um jogo que se passa no interior de si mesmo, e nada acontece que nos traga a novidade e a esperança.

Continuamos no dilema entre a forma e o conteúdo. Nos próximos tempos, a forma continuará a prevalecer, infelizmente...

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