sexta-feira, outubro 08, 2004
Quando os deuses baixam do Olimpo à Tribulandia
Entro na café e nem me apercebo da sua presença. Passado algum tempo, numa das minhas viagens de circunvalação visual, encontro o personagem. Compenetrado, posição ergonómica correcta, lunetas, lendo o jornal. Estranho que não seja um livro porque anda quase sempre com um debaixo do braço. Discreto, muito discreto como sempre. Bom fatinho cinzento, gravatinha a condizer, tudo indica estar muito para além do ambiente geral.Deve estar num intervalo das suas presenças no parlamento europeu. Pergunto-me o que tem feito nos últimos tempos: não consigo vislumbrar nada. Etéreo como convém, nunca me pareceu, ao que sei, fazer qualquer diferença nas tomadas de posição políticas. Inócuo, em suma. Eis um intelectual de partido cujas capas de livros e pensamentos formais agradam certamente a muitos. Dobra o jornal, levanta-se e vai, mui serenamente, a caminho da saída. Caminha como Cristo sobre as águas (me perdoe o filho de Deus pela comparação). Deixa no ar um perfume a Bruxelas. Decididamente, há eleitos que estão para além dos problemas concretos do dia a dia. Felizardos, penso.
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