sábado, outubro 23, 2004

A precaridade das coisas e loisas da vida

Passo na rua ao lado de um Mercedes 300 que há anos era o sonho de todo o cidadão importante. Pintura desbotada, cromados meio desaparecidos, riscos no capot, pneus sem brilho, ali estava ele longe das glórias do passado. Como lembrança da precaridade das coisas materiais não merecerá o olhar dos condutores das novas glórias. Eles (e nós) também precários mas julgando-se ao abrigo do desaparecimento e do esquecimento. Rodam velozes, na rota da existência, amesquinhando os que nada têm e julgando-se eternos. Até ao dia em que a poeira do tempo os esconda e apenas fique a lembrança do mal ou do bem que fizeram aos outros. A eternidade estará apenas na beleza de algum gesto gratuito.

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