Resolvemos mandar um dos jornalistas da Tribulandia entrevistar um dos possíveis candidatos à Presidência da República. Fomos encontrar o Tonecas bastante moreno e anafado, recebendo-nos com aquele largo sorriso que nos parece engolir à primeira dentada. Fatinho de boa fazenda, camisinha azul bébé, gravatinha cor de rosa (bébé) convidou-nos a entrar no seu doce ninho. Perguntamos-lhe como tinham sido os seus tempos de exílio, tomamos um café e demos a volta ao mundo. Nos próximos tempos já não precisamos de comprar a revista "Evasões". Tiramos as fotos da praxe, de pé no jardim, sentado na cadeira do Luis XIV, deitado com o cãezinhos e com ar pensativo, escrevendo as suas memórias em papel reciclado. E começamos:
R. - Como se tem dado com o tratamento de esquecimento das asneiras passadas?
T. - Muito bem. Aliás, não foram bem asneiras. Como sabe as maiores realizações deste país derivam de asneiras.
R. - Sente-se preparado para asumir a Presidência?
T.- Claro. Você conhece algum cargo mais fácil de desempenhar? O que vou precisar é de alguns triunfos do futebol para exercitar as minhas emoções copiosas.
R.- É um candidato de esquerda, do centro ou de direita?
T.- Sou um candidato abrangente.
R.- Que pensa da situação actual do país?
T.- Está muito bem. Veja o êxito da Madonna na capital. Veja a quantidade de estrelas de futebol que exportamos. Veja como o nosso mar continua verde e as nossas montanhas de cabelo aparado. Adoro viajar nas Scuts sem pagar. A nossa juventude cada vez gosta mais de telemóveis e de cerveja. Só nos fazem falta mais alguns acontecimentos que projectem a nossa imagem, mas tenho a esperança que se o Kerry ganhar venha cá almoçar comigo.
R.- E a situação económica?
T.- Foi muito bom entrar para o Euro. Já viu as lindas moedas que agora temos?
R.- E a cultura?
T.- Temos que deixar de ser bairristas. Temos que aprender a cantar country e a dançar sevilhanas. São boas para o exercício das cordas vocais.
R. - Quer continuar a ser Chefe Supremo das piadas?
T.- Penso ser indispensável para a harmonia. Aliás também gosto muito do Xantana. Juntos, podemos animar muito as noites da capital.
R.- Como vê o país dentro de vinte anos?
T.- A juventude já deixou de estudar e será mais feliz. Já tem muito trabalho com as motos e os telemóveis. A maior parte da população deixará de trabalhar e viverá em loisir permanente. Teremos várias universidades de futebol e exportaremos, significativamente, jogadores para outros países. O Estado estará reduzido à cobrança de impostos. A Justiça será entregue a firmas privadas e portanto mais eficaz. O exército fará as suas missões subcontratando no exterior.
R.- Mas isso é uma visão dantesca...
T.- Está enganado. O povo estará feliz e passará as tardes a ver televisão.
R.- Ah..
T.- Há que ter visão meu caro.
Saímos lentamente, mudos e paralisados. Tonecas ficou a alisar o cabelo para uma entrevista a uma revista de moda que se realizaria a seguir.
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