sábado, setembro 25, 2004

A cultura dos engravatados e dos bobos da corte

Público
A Casa Sem Música
Por AMÍLCAR CORREIA

"A cidade do Porto é hoje liderada por um grupo de pessoas que nutre pela cultura um desprezo que mistura tanto de arrogância como de ignorância. Sabia-se desde o início do mandato de Rui Rio que este era um executivo mais preocupado com as festas populares organizadas pela Rádio Festival - o primeiro evento cultural da cidade no qual participou o então ministro Pedro Roseta -, do que em dar sequência à programação cultural de espaços como o do teatro municipal Rivoli. As guerras entre o presidente do município e o vereador da Cultura, Marcelo Mendes Pinto, que liderava o PP quando foram elaboradas as listas para as últimas eleições autárquicas, cedo se impuseram ao interesse público de uma programação cultural exigente e em conformidade com o trabalho precedente. Na prática, a incompatibilidade entre os dois autarcas esvaziou financeiramente o pelouro da Cultura, a empresa municipal Culturporto e fez de Rui Rio o verdadeiro vereador daquela área. O Porto acabou assim reduzido a um pobreza franciscana no domínio da cultura, com exposições de dinossauros, alguns coretos, outros tantos ranchos folclóricos e o Porto Sound, essa manifestação de gosto médio, como dizia o ex-vereador da Cultura. Restava, pois, a Casa da Música."

Concordamos com a apreciação feita mas também convém não esquecer que a "pobreza cultural" já vinha do anterior executivo (2º mandato) e que o remédio não está no cimento nem nos pianistas construtores ou noutros artistas a soldo do poder. Há que revitalizar a cidade no seu todo e não circunscrever a cultura a meia dúzia de engravatados que utilizam uma linguagem pseudo-cultural mas só aparecem nos acontecimentos que contam com a presença dos poderosos. Muitos nunca os vimos interessados na cultura da cidade, a não ser a partir do momento em que se sentaram nos poleiros.

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