No Público, Augusto Santos Silva, vem a terreiro defender a sua dama: a situação política onde ele se encaixa perfeitamente. E uma vez mais levantando a polémica sobre Saramago. Para tal, transforma uma obra literária num panflecto político.Os que não estão de acordo com o que se passa na sociedade actual, ou são reaccionários ou saudosistas não-democratas que não evoluíram no tempo. "Lido como um manifesto, o "Ensaio" é a ladainha de um não democrata pós-revolucionário. Mas não merece nenhuma polémica dos diabos, situa Saramago no lugar político e no tempo histórico que ele próprio escolheu", escreve. Só falta a sugestão de não o ler com o argumento que é anti-democrático. Este tipo de linguagem, mais elaborada do que a inquisitiva, tem mais ou menos os mesmos objectivos: quem não é por nós, é culpado de algo. Quem gosta da pintura de Picasso tem que gostar da forma como conduzia a sua vida pessoal? Quem gosta da pintura Van Gog está num caminho de loucura? A democracia tem donos, senhores da verdade absoluta, bem instalados, cujos actos nem é preciso referir porque sempre vão aparecendo nos jornais. A corrupção é uma invenção, os despesismos absurdos outra, a crise uma falácia, o afastamento dos políticos dos cidadãos uma responsabilidade destes, o desemprego a aumentar é culpa dos mandriões dos trabalhadores e por aí adiante. O escândalo das despesas da Expo é culpa do Vasco da Gama!
E já não falamos da falta de ideais e valores. Porque de ideias a seu favor estão eles cheios. Num rebate de consciência, normal neste tipo de política crentrada, termina: "Apesar da pose do autor, apesar da encenação político-comercial da editora, está aí mais um grande romance da literatura portuguesa. "
Em que ficamos afinal?
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