sexta-feira, novembro 05, 2004

Público
Artur Maurício
Por EDUARDO PRADO COELHO

Vejo no jornal uma fotografia da tomada de posse do presidente do Tribunal Constitucional. Já sabia, mas estas coisas nunca deixam de nos surpreender: é o Artur Maurício. O Artur, meu colega do Camões, o Artur, meu amigo dos Verões de São Martinho.
No Liceu Camões, formávamos um trio com o José Manuel Anes, que estudava em conjunto, namorava em conjunto, fazia desporto em conjunto. Ainda tenho uma fotografia de nós os três, sentados nas rochas, diante do mar, naquele jeito de quem olha para a História e aguarda a celebridade. Pois agora o Artur Maurício é o presidente do Tribunal Constitucional. O Zé Manel, navegando entre a química e a alquimia, procurando uma abordagem racional do hermetismo, acabou como gão-mestre da Maçonaria. Eu, eu cá faço crónicas. Todos sobre as rochas, salpicados pela espuma, olhando o fim da tarde e o mar. E esperando o declinar do sol no horizonte.
(...)
Olho para o Mário, o meu neto, vejo-o com um boneco na mãos, pergunto de que virá a ele a ser presidente. As crianças que correm à nossa frente serão reitores, dirigentes de empresas, treinadores de futebol. Mas ainda não sabem. Nem eu. O que as torna felizes.

Claro, os netos dos ilustres anti-fascistas, adaptados ao sistema actual, serão importantes reitores, dirigentes de empresas ou treinadores de futebol. E as outras crianças? Essas pouco interessam (poderão até ser arrumadores). Servirão para adornar o brilhantismo dos bem instalados, vendo o declinar do sol através das barracas.

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