sábado, dezembro 20, 2003

A Papel de Cópia

FIALHO DE ALMEIDA
VIDA IRONICA (Jornal d´um Vagabundo)

"Com sobeja razão, dizia há pouco um publicista: Portugal, é Lisboa –sómente ele esqueceu de detalhar que Lisboa é apenas o Terreiro do Paço. A cidade cresce todos os dias em edificações de luxo, à custa da província, e á proporção sobretudo que vão augmentando os quadros burocraticos. A manga de lustrina tornou-se uma expressão de vadiagem, peor que umas certas que a policia corrige, pois se disfarça sob apparencias de trabalho, e levanta a grimpa em basofias d´independencia, tanto mais impunes, quanto mais insolvavel se vae tornando a miseria das outas classes. É da burocracia que os partidos monarchicos sacam a fantochada espuria que os defende, que os ampara e os constitue; e esta confraria d´espertos inuteis, que faz os parlamentos e os jornaes, os movimentos de opinião preponderante, a claque dos thronos e o esteio dos ministros devassos, esta confraria bem pressente a necessidade de se unir, como os pecegos do Demi-Monde, para ocultar ao publico a sua nodoa de podridão originaria. É ela a unica vacca nedia n´este miseravel paiz que tem nos ossos o rachitismo gallico de seis seculos de monarchias deprimentes. Ella a unica que manda e prepondera á nossa custa, e que para ter carruagens e palacios, festins e sedas, sancciona no parlamento os bill vergonhosissimos, consente no accrescimo dos impostos, por ter tudo a ganhar na partilha dos dinheiros do povo – do povo que ainda se não convenceu que os gatunos agora andam fardados!"

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