segunda-feira, dezembro 08, 2003

Movimento sem sentido

Eu sei que é época de espírito de Natal, embora ele pareça vogar nos meandros dos shopping centers, apenas. Pus os olhos numa notícia de jornal. “Quatro em cada cinco condutores circulam em excesso de velocidade dentro das povoações”. Wow!!!
Para além dos excessos nas estradas, este parece-me particularmente grotesco. Mesmo
com as obras infindáveis e os buracos da nossa estima, mesmo com as ruas não desenhadas para tanto trâfego, mesmo com o custo de gasolina, a crise, a imensidão de carros em circulação, o mau estacionamento e os inúmeros semáforos, ainda há lugar para dar o gosto ao pé direito? E porquê? Porquê essa ânsia desmesurada de causar sensação e de se mover tão depressa? Que pensamentos encerram aquelas cabeças?
Eu tenho visto travagens bruscas ao chegar aos semáforos, já vermelhos, apitadelas a senhoras que se distraiem e atravessam fora da passadeira, travagens dentro das mesmas, arranques com vermelho posto e por aí fora. Para já não falar dos insultos velados ou explícitos e até mesmo de cenas de pancadaria, por uma simples ultrapassagem. . Não é portanto uma novidade mas mesmo assim assusta.
Desde logo, parece-me que estas pessoas têm problemas. Deveriam consultar um psicólogo. Vidas com stress constante, má estabilidade emocional ao nível do amor e das amizades, dificuldade em sentir o essencial de viver em comunidade, egoísmo elevado ao absurdo, intranquilidade, falta de confiança em si mesmo, má educação, maus filmes, má leitura, etc. etc...Seria caso para perguntar se, por acaso, chegam a algum lado?
E se chegam dois minutos mais cedo o que lhes adianta? Perdem o início duma ópera? Salvam alguém que necessita de médico? Creio bem que nada disso.
Desculpo-os, muitas vezes, porque penso que devem ser demasiado infelizes. Muito influenciados por uma cultura cega do ego, por umas escolas que não vão além do saber ler e contar, por uma competitividade estúpida, não baseada ciência e na técnica, mas sim na agressividade primitiva e pela adoração da imagem sem conteúdo. Que mundo temos vindo a construir? Será que regressaremos ao nível dos primatas? Não me admiraria muito. Salve-se quem puder, eis o grande princípio filosófico dos dias de hoje.
E não me atirem com as culpas disto para o Governo.
Os que ficarem para trás que se aguentem. Eu existo. Eu sou. Eu valho. Eu tenho.
Valores fazem já parte do baú das recordações. Viva a nova era.

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