terça-feira, dezembro 16, 2003

Casuística

Ligo o rádio. Procuro acordar ouvindo alguma música e dando o gosto ao dedo, mudando de estação. Ouço: João não controla o seu corpo, João tem a má sorte de ter a doença de Parkinson. João pode melhorar a sua qualidade de vida fazendo fisioterapia. Vamos todos contribuir para ajudar o João a ter sessões de fisioterapia. Contribua. Lembro-me de uma canção de Alfredo Zitarrosa, uma milonga, que diz, a determinado passo; “Desprezo a caridade pela vergonha que encerra”. Estas acções (possivelmente meritórias) vêm ao longo dos anos a nunca resolver coisa alguma. Haverá sempre outros João, Miguel, Luís, etc., a necessitar
do nosso “bondoso” coração. Damos uns euros e esquecemos que haverá muitos mais a precisar entre os 15000 afectados por esta horrível doença ou por outras.. Para que se organizou a sociedade em Estado? Para apenas aplicar leis sobre o património e coimas? Para que serve o sentido de Nação? Para que serve o nosso patriotismo? Para acompanhar a selecção nacional? Aprendi que serve para tratar dos problemas de todos nós e que não podem ser tratados individualmente, incluindo a salvaguarda dos direitos e dignidade dos seus cidadãos.. E entre o direito à liberdade não estará o direito à saúde ou ao seu tratamento quando for caso disso? Ou será que a saúde de um povo ou de parte dele é apenas um negócio sujeito à lei da oferta e da procura? Com tantos convertidos ao liberalismo “à tribu”, não me admira nada. Só que quando afirmam que não há dinheiro, poderiam, por exemplo, pensar em limitar o custo das viaturas dos autarcas, não lhes retirando dignidade, mas também não caindo em exageros como por aí se vê. Longa seria a potencial lista das poupanças.
Numa época em que celebramos o nascimento do Cristo Redentor, também celebramos o Seu sofrimento e o de tantos anónimos que o seguem com a sua pequena ou grande cruz.

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