JOSÉ RÉGIO
Podes roubar-me o pão!
A Fome, não.
A boca, sim: come ou não come.
Porém, como roubar a inextinguível Fome?
Inextinguível, porque pede
Um pão que nos excede:
Um pão que ninguém dá
Nem tirará.
Podes furtar-me todos os proveitos,
Expropriar-me, até, dos meus direitos!
Aos ventos darei eu meus gritos e canções,
E os ventos lhes farão mil edições.
Podes calar-me com mordaças,
Tu, que és mortal... e passas.
Passas, ao passo que o meu grito
Percute ao longo do Infinito...
Podes acorrentar-me às rochas das montanhas,
Pôr abutres roendo-me as entranhas!
Como das flores espalha o pólen,
O vento espalhará o sémen do Homem...
Podes cobrir-me o nome de impropérios;
Tu, que és senhor de impérios,
Negar ao pobre o seu só bem: a fama
Não brilha o sol na própria lama?
Podes tirar-me a paz, a saúde, e a própria vida.
Ai pedra sepulcral assaz fendida!
Que ao Cristo lhas tiraram,
Perderam-se e O ressuscitaram.
Podes, ás minhas cinzas, recobri-las
De terra e pedras; difundi-las
Pelos desertos sem oásis!
Não sabes que é mortal tudo o que fazes?
És sempre o mesmo, tu, cujas razões supremas
São mordaças, grilhões, vendas, algemas.
Mártir, rebelde, poeta, - também eu
Sou sempre o mesmo Um que não morreu.
Porquê? Porque ao morrer, dos céus,
Lhe diz o próprio Deus:
“Filho, vem até mim!
“A História principia onde eles põem: fim.”
quarta-feira, dezembro 31, 2003
A Felicidade Tribu
As horas vão passando a caminho de um novo ano. O tempo mostra-se comoo “clima” geral da Tribulandia: cinzento com tendência para aguaceiros. Os ”herois mediáticos” fazem da vergonha motivo de sensação. Alguns parece-me que deveriam era estar calados e não dizer palhaçadas. Ainda vão acabar por escrever memórias que baterão recordes de edição. Passemos adiante. Enquanto se anunciam aumentos substanciais de desemprego em vários sectores económicos, alguns aparecem sorridentes e orgulhosos a inaugurar estádios. Roma afunda-se e os senadores festejam em grandes banquetes. A História repete-se, dizem. Alguns periódicos têm mais fotografias de cimento que notícias. Ainda hei-de gostar de ver as contas de custos e proveitos para ver quem vai pagar (ou receber?) a conta final. Candidatos a prejuízos são desde já os pobres dos romanos, como diria o Astérix...
Nas novas naves espaciais (vulgo shopping) ficou um cheiro a despesismo que se vai esfumando com as primeiras promoções. Não ando cinco metros sem ver alguém com o telemobile na orelha. Valha-nos o sorriso de satisfação que provocam. Interrogo-me quem paga aquelas contas. Sento-me numa cafetaria. Um casal jovem está entretido, cada um com seu telemobile, falam longos minutos. Quando um para de telefonar, acaricia o objecto. Pousa-o e pega nele de novo . Marca, fala, gesticula. O outro parece-me fazer jogos, com uma rapidez de mãos impressionante. Uma jovem senta-se, sózinha, numa das mesas. Telemobile na mão não para de falar e rir. Outro casal beija-se (à francesa). Espero um pouco. Infalível. Lá vem o telemobile para as mãos dela. Lá se foi a imagem de romantismo. Saio da cafetaria e vou à primeira loja comprar um ”topo de gama”. Peço para me carregarem a bateria, rapidamente. Não posso perder a hipótese de me sentir bem e sorrir.
Nas novas naves espaciais (vulgo shopping) ficou um cheiro a despesismo que se vai esfumando com as primeiras promoções. Não ando cinco metros sem ver alguém com o telemobile na orelha. Valha-nos o sorriso de satisfação que provocam. Interrogo-me quem paga aquelas contas. Sento-me numa cafetaria. Um casal jovem está entretido, cada um com seu telemobile, falam longos minutos. Quando um para de telefonar, acaricia o objecto. Pousa-o e pega nele de novo . Marca, fala, gesticula. O outro parece-me fazer jogos, com uma rapidez de mãos impressionante. Uma jovem senta-se, sózinha, numa das mesas. Telemobile na mão não para de falar e rir. Outro casal beija-se (à francesa). Espero um pouco. Infalível. Lá vem o telemobile para as mãos dela. Lá se foi a imagem de romantismo. Saio da cafetaria e vou à primeira loja comprar um ”topo de gama”. Peço para me carregarem a bateria, rapidamente. Não posso perder a hipótese de me sentir bem e sorrir.
segunda-feira, dezembro 29, 2003
Grande novidade Tribu?
Não há bem que sempre dure, nem mal que não acabe. Assim acontece com a pacatez dos domingos. Meio sol, meio chuva, com resquícios de música natalícia e uma por outra loja aberta que o negócio não vai famoso.
Nesta tranquilidade, recebi um telefonema de uma amigo meu que me dava conta de uma grande acontecimento para 2004. Finalmente na Tribulandia iria formar-se um novo partido chamada Dakaomeu, com a sigla DKM. Que sim,que era verdade. O meu amigo, muito entusiasmado, informou-me que estava dentro do núcleo inicial e que os pedidos de adesão eram aos montes. Até já tinham o projecto de uma bandeira, com várias cores e, no meio uma nota ($). Nada de ideologias ultrapassadas, tudo com muito realismo e transparência. Politicamente correcto e correspondendo ao maior sonho dos tribus: enriquecer. Finalmente, o partido da verdade e o que nos tiraria a todos da crise.
Fiquei sem fala. E como era isso possível? Que depois me explicaria e que se houvesse tempo me arranjaria uma entrevista com o principal dinamizador o Manuel das Notas Gordas para o Tavares Riquinho dar o gosto ao gravador dos 300 ou bloco-notas, no caso do entrevistado não querer gravadas as suas momentosas palavras (para as quais alguns podem não estar preparados). Eu cá desconfio que ele prefere o bloco para se parecer com o ídolo dele. Desliguei mas fiquei curioso.
Nesta tranquilidade, recebi um telefonema de uma amigo meu que me dava conta de uma grande acontecimento para 2004. Finalmente na Tribulandia iria formar-se um novo partido chamada Dakaomeu, com a sigla DKM. Que sim,que era verdade. O meu amigo, muito entusiasmado, informou-me que estava dentro do núcleo inicial e que os pedidos de adesão eram aos montes. Até já tinham o projecto de uma bandeira, com várias cores e, no meio uma nota ($). Nada de ideologias ultrapassadas, tudo com muito realismo e transparência. Politicamente correcto e correspondendo ao maior sonho dos tribus: enriquecer. Finalmente, o partido da verdade e o que nos tiraria a todos da crise.
Fiquei sem fala. E como era isso possível? Que depois me explicaria e que se houvesse tempo me arranjaria uma entrevista com o principal dinamizador o Manuel das Notas Gordas para o Tavares Riquinho dar o gosto ao gravador dos 300 ou bloco-notas, no caso do entrevistado não querer gravadas as suas momentosas palavras (para as quais alguns podem não estar preparados). Eu cá desconfio que ele prefere o bloco para se parecer com o ídolo dele. Desliguei mas fiquei curioso.
domingo, dezembro 28, 2003
sábado, dezembro 27, 2003
Um Natal que passa
Uma noite de Natal em paz. Um esquecer do que se passou antes e uma esperança para o futuro. Um espírito que se renova a cada ano, mesmo que a realidade piore, dia a dia. Eis o milagre do Natal. Por breves horas, um sentimento de tranquilidade e um desejo de perdão. Também um dia de recolhimento, em família, essa instituição tão depedrada nos tempos modernos ( à Charlie Chaplin). Passeio pelas ruas desertas que me parecem mais interessantes do que nos momentos de correria. Imagino como poderia ser um pouco melhor o dia a dia. O meu pensamento diz-me que me iludo e que tudo voltará: egoísmo, maldade, frustação, sofrimento e dor, mas sinto, ao mesmmo tempo, que só a ignorância é mãe da maldade e que essa pode ser combatida. Melhorando o ensino, defendendo a saúde, eliminando, pouco a pouco, as situações aberrantes de pobreza material e mental, deixando de adorar cegamente o bezerro de ouro que nos envenena a todos e, embora não querendo impossiveis, esperar que os que detêm as rédeas do poder (económico e político) se abstraiam de olhar para a própria barriga e tratem de conseguir a imortalidade, não através do frio betão e de festivais, mas levando com a sua acção os demais para caminhos melhores. Verão, talvez, que um sorriso na face de outro ser humano pode ser mais compensador do que atingir os 200km por hora, tomar uma bebedeira numa “boite de luxo” ou usar uma marca de calças para se distinguirem de milhares iguais.
O verdadeiro Papa disse que se derrama demasiado sangue na humanidade. Nada mais certo. E se Cristo não estiver disposto a voltar à Terra par salvar a humanidade? E se Deus resolver castigar o homem por não saber usar a liberdade e discernimento que lhe deu?
O verdadeiro Papa disse que se derrama demasiado sangue na humanidade. Nada mais certo. E se Cristo não estiver disposto a voltar à Terra par salvar a humanidade? E se Deus resolver castigar o homem por não saber usar a liberdade e discernimento que lhe deu?
quarta-feira, dezembro 24, 2003
NOVO NATAL
PEDRO SANTOS
O meu Cristo nasceu na Somália
Rodeado de granadas e minas
Tendo nos braços uma cruz
Nos olhos a esperança
e na boca seca nada de vida
Como filme cor de rosa
Passam herois e mendigos
no coro das nações não erguidas
em que a tristeza mora longe
feita de terra sangrada
de peito e alma
O meu Cristo vai morrer
duma ou doutra forma
Já sem brinquedos brincando
O meu Cristo vai morrer
em New York, em Londres
ou num porto sem partida
Pouco a pouco esquecido
Mal o corpo sente
E a mãe que virgem não é
amaldiçoa o ventre e a vagina
de areia feita e de ânsia
qual folha de chá fervida
nas horas de mais uma notícia
O meu Cristo nasceu na Somália
Rodeado de granadas e minas
Tendo nos braços uma cruz
Nos olhos a esperança
e na boca seca nada de vida
Como filme cor de rosa
Passam herois e mendigos
no coro das nações não erguidas
em que a tristeza mora longe
feita de terra sangrada
de peito e alma
O meu Cristo vai morrer
duma ou doutra forma
Já sem brinquedos brincando
O meu Cristo vai morrer
em New York, em Londres
ou num porto sem partida
Pouco a pouco esquecido
Mal o corpo sente
E a mãe que virgem não é
amaldiçoa o ventre e a vagina
de areia feita e de ânsia
qual folha de chá fervida
nas horas de mais uma notícia
FELIZ E SANTO NATAL PARA OS QUE POR AQUI PASSAM
CARAVAGGIO- Pormenor de O Repouso durante a fuga para o Egipto
cerca de 1596-1597 -Roma, Galeria Doria Pamphili
terça-feira, dezembro 23, 2003
CONVERSA INFORMAL COM O MENINO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.
Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.
Como posso, pergunto, o ano
inteiro, viver sem Cristo
(por sinal,
na santa paz do gusano)
e agora embalar-te: isto
é Natal?
Os outros fazem? Paciência,
todos precisam de vale...
Afinal,
em sua reta inocência,
diz-me o burro que me cale,
natural.
E o boi me segreda: Acaso
careço de alexandrino
ou jornal
para celebrar o caso
humano quanto divino,
hem, jogral?
Perdoa, Infante, a vaidade
a fraqueza, o mau costume
tão geral:
fazer da Natividade
um pretexto, não um lume
celestial.
Por isso andou bem o velho
do Cosme Velho, indagando,
marginal,
no seu soneto-cimélio,
o que mudou, como, quando,
No Natal.
Mudei, piorei? Reconheço
que não penetro o mistério
sem igual.
Não sei, Natal o teu preço,
e te contemplo, cimério,
a-pascal.
Vou de novo para a escola,
vou, pequenino, anular-me,
grão de sal
que se adoça ao som da viola,
a ver se me desperto um carme
bem natal.
Não será canto rimado,
verso concretista, branco
ou labial:
antes mudo, leve, agrado
de vento em flor no barranco,
diagonal.
Não venho à tua lapinha
pedir lua, amor ou prenda
material.
Nem trago qualquer coisinha
de ouro subtraído à renda
nacional.
Nossa conversa, Menino,
será toda silenciosa,
informal.
Não se toca no destino
e em duros trchos de prosa
lacrimal.
Não vou queixar-me da vida
ou falar (mal) do governo
brasilial.
Nem cicatrizar ferida
resultante do meu ser-no-
mundo actual.
Deixa-me estar longamente
junto ao berço, num enleio
colegial.
(Áquele que ´é menos crente,
um anjo leva a passeio:
é Natal.)
Prosterno-me, e teu sorriso
sugere, menino astuto
e cordial:
Careço de ter mais siso
e vislumbrar o Absoluto
neste umbral.
Sim, pouco enxergo. Releva
ao que falta a poesia,
e por al.
Gravura em branco, na treva:
a treva se aclara em dia
de Natal.
Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.
Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.
Como posso, pergunto, o ano
inteiro, viver sem Cristo
(por sinal,
na santa paz do gusano)
e agora embalar-te: isto
é Natal?
Os outros fazem? Paciência,
todos precisam de vale...
Afinal,
em sua reta inocência,
diz-me o burro que me cale,
natural.
E o boi me segreda: Acaso
careço de alexandrino
ou jornal
para celebrar o caso
humano quanto divino,
hem, jogral?
Perdoa, Infante, a vaidade
a fraqueza, o mau costume
tão geral:
fazer da Natividade
um pretexto, não um lume
celestial.
Por isso andou bem o velho
do Cosme Velho, indagando,
marginal,
no seu soneto-cimélio,
o que mudou, como, quando,
No Natal.
Mudei, piorei? Reconheço
que não penetro o mistério
sem igual.
Não sei, Natal o teu preço,
e te contemplo, cimério,
a-pascal.
Vou de novo para a escola,
vou, pequenino, anular-me,
grão de sal
que se adoça ao som da viola,
a ver se me desperto um carme
bem natal.
Não será canto rimado,
verso concretista, branco
ou labial:
antes mudo, leve, agrado
de vento em flor no barranco,
diagonal.
Não venho à tua lapinha
pedir lua, amor ou prenda
material.
Nem trago qualquer coisinha
de ouro subtraído à renda
nacional.
Nossa conversa, Menino,
será toda silenciosa,
informal.
Não se toca no destino
e em duros trchos de prosa
lacrimal.
Não vou queixar-me da vida
ou falar (mal) do governo
brasilial.
Nem cicatrizar ferida
resultante do meu ser-no-
mundo actual.
Deixa-me estar longamente
junto ao berço, num enleio
colegial.
(Áquele que ´é menos crente,
um anjo leva a passeio:
é Natal.)
Prosterno-me, e teu sorriso
sugere, menino astuto
e cordial:
Careço de ter mais siso
e vislumbrar o Absoluto
neste umbral.
Sim, pouco enxergo. Releva
ao que falta a poesia,
e por al.
Gravura em branco, na treva:
a treva se aclara em dia
de Natal.
domingo, dezembro 21, 2003
BOLO FELICIDADE
Free Clipart or Photos: www.ace-clipart.com
Prepara-se um molho de telenovela, lamecha quanto baste, e junta-se duas colheres
de manteiga de cacau e um rebuçado em pó. Mexe-se durante várias horas ao dia até
ganhar ponto. Adiciona-se uma boa porção de jogos da Liga, com declarações finais
de treinadores para ganhar consistência. Se possível, adicionar condimentos de guerra
entre presidentes. Volta-se a mexer tudo de novo. Leva-se a lume brando para amolecer.
Retira-se e junta-se meia dose de desgraças individuais avulsas. Bate-se com uma colher
de comentador político, durante a hora do telejornal. De preferência, juntar 2 colheres
de erudição. Para não ficar demasiado doce, juntar alguns acidentes de tráfego. Se já
estiver de lágrima no olho, descanse um pouco e veja os anúncios. Juntar, depois, uma
laranja espanhola para ter um paladar internacional. Leve ao forno, durante 8 horas.
Quando vir que já ganhou ponto, junte um pouco de discurso caridoso e algumas colheres
de estatística, mesmo que não perceba para que servem. Faça alguns buracos na massa
com uma colher de pau e encha-os de prestações suaves (aí umas 60). Decore o bolo com
um boneco de um ídolo e outro de um hooligan. Se o odor for parecido com algum queijo
francês, está pronto a ser servido. Pode também colocar uma vela de cera da cor do seu clube.
Ponha um sorriso feliz e esqueça-se da crise. Verá que o novo ano será cheio de prosperidades.
Classificações
Dou uma volta por outros blogs. Em muitos a preocupação de ser de esquerda ou de direita, pró ou conta os
USA, a favor ou contra Saddam, como se a realidade se dividisse em caixas rotuladas e os classificativos
definissem a qualidade das ideias e das acções. Preto e Branco. Duas cores que definem um universo que
me parece demasiado pardacento. Tão pardacento, que ao longo dos últimos anos o pensamento de muitos
se mudou de um extremo para o outro, acompanhado das correspondentes acções. Só que os valores e os
ideais se confinaram ao canto das gavetas. Passaram de moda. Acomodaram-se ao bem bom do relativismo.
E assim vamos perdendo identidade, humanismo, competitividade económica, coesão social e nos vemos
num túnel sem luz ao fundo. Talvez uma geração futura se liberte das amarras. Tenho essa esperança no
meu pensamento e recordo uma frase de GUERRA JUNQUEIRO
"os políticos consideram-me um poeta; os poetas , um político; os católicos julgam-me um ímpio; os ateus
um crente"
USA, a favor ou contra Saddam, como se a realidade se dividisse em caixas rotuladas e os classificativos
definissem a qualidade das ideias e das acções. Preto e Branco. Duas cores que definem um universo que
me parece demasiado pardacento. Tão pardacento, que ao longo dos últimos anos o pensamento de muitos
se mudou de um extremo para o outro, acompanhado das correspondentes acções. Só que os valores e os
ideais se confinaram ao canto das gavetas. Passaram de moda. Acomodaram-se ao bem bom do relativismo.
E assim vamos perdendo identidade, humanismo, competitividade económica, coesão social e nos vemos
num túnel sem luz ao fundo. Talvez uma geração futura se liberte das amarras. Tenho essa esperança no
meu pensamento e recordo uma frase de GUERRA JUNQUEIRO
"os políticos consideram-me um poeta; os poetas , um político; os católicos julgam-me um ímpio; os ateus
um crente"
sábado, dezembro 20, 2003
Quem desejaria ver na Presidência?
Encerramos o nosso inquérito Tribulano com os seguintes resultados:
Pimentinha - 58%
Tonecas -12%
Chantana Lopes - 8%
Filipinho - 8%
Papa - 8%
É ou não importante que a bola role?
Pimentinha - 58%
Tonecas -12%
Chantana Lopes - 8%
Filipinho - 8%
Papa - 8%
É ou não importante que a bola role?
A Papel de Cópia
FIALHO DE ALMEIDA
VIDA IRONICA (Jornal d´um Vagabundo)
"Com sobeja razão, dizia há pouco um publicista: Portugal, é Lisboa –sómente ele esqueceu de detalhar que Lisboa é apenas o Terreiro do Paço. A cidade cresce todos os dias em edificações de luxo, à custa da província, e á proporção sobretudo que vão augmentando os quadros burocraticos. A manga de lustrina tornou-se uma expressão de vadiagem, peor que umas certas que a policia corrige, pois se disfarça sob apparencias de trabalho, e levanta a grimpa em basofias d´independencia, tanto mais impunes, quanto mais insolvavel se vae tornando a miseria das outas classes. É da burocracia que os partidos monarchicos sacam a fantochada espuria que os defende, que os ampara e os constitue; e esta confraria d´espertos inuteis, que faz os parlamentos e os jornaes, os movimentos de opinião preponderante, a claque dos thronos e o esteio dos ministros devassos, esta confraria bem pressente a necessidade de se unir, como os pecegos do Demi-Monde, para ocultar ao publico a sua nodoa de podridão originaria. É ela a unica vacca nedia n´este miseravel paiz que tem nos ossos o rachitismo gallico de seis seculos de monarchias deprimentes. Ella a unica que manda e prepondera á nossa custa, e que para ter carruagens e palacios, festins e sedas, sancciona no parlamento os bill vergonhosissimos, consente no accrescimo dos impostos, por ter tudo a ganhar na partilha dos dinheiros do povo – do povo que ainda se não convenceu que os gatunos agora andam fardados!"
VIDA IRONICA (Jornal d´um Vagabundo)
"Com sobeja razão, dizia há pouco um publicista: Portugal, é Lisboa –sómente ele esqueceu de detalhar que Lisboa é apenas o Terreiro do Paço. A cidade cresce todos os dias em edificações de luxo, à custa da província, e á proporção sobretudo que vão augmentando os quadros burocraticos. A manga de lustrina tornou-se uma expressão de vadiagem, peor que umas certas que a policia corrige, pois se disfarça sob apparencias de trabalho, e levanta a grimpa em basofias d´independencia, tanto mais impunes, quanto mais insolvavel se vae tornando a miseria das outas classes. É da burocracia que os partidos monarchicos sacam a fantochada espuria que os defende, que os ampara e os constitue; e esta confraria d´espertos inuteis, que faz os parlamentos e os jornaes, os movimentos de opinião preponderante, a claque dos thronos e o esteio dos ministros devassos, esta confraria bem pressente a necessidade de se unir, como os pecegos do Demi-Monde, para ocultar ao publico a sua nodoa de podridão originaria. É ela a unica vacca nedia n´este miseravel paiz que tem nos ossos o rachitismo gallico de seis seculos de monarchias deprimentes. Ella a unica que manda e prepondera á nossa custa, e que para ter carruagens e palacios, festins e sedas, sancciona no parlamento os bill vergonhosissimos, consente no accrescimo dos impostos, por ter tudo a ganhar na partilha dos dinheiros do povo – do povo que ainda se não convenceu que os gatunos agora andam fardados!"
sexta-feira, dezembro 19, 2003
Surrealista
Para quem não acredita em OVNIS e extra-terrestres, aqui, testemunho que vi, ontem,
um autocarro dos serviços de transporte públicos passar num cruzamento com o
semáforo vermelho, bem evidente.
um autocarro dos serviços de transporte públicos passar num cruzamento com o
semáforo vermelho, bem evidente.
quinta-feira, dezembro 18, 2003
Sonho e realidade, passado e presente
RICHARD LINDNER - O Encontro, 1953 - The Museum of Modern Art - Nova Iorque
quarta-feira, dezembro 17, 2003
Um dia normal
Tento sair da garagem. Acciono o comando para abrir a porta. Paro em cima do passeio. Uma fila imensa de carros me aguarda. Troco olhares com três ou quatro condutores que avançando dois metros me tapam a saída. O quinto, mais benevolente, deixa-me entrar na fila. Agradeço, repetidas vezes. Ponho até o braço de fora para assinalar o meu reconhecimento. Chego ao cruzamento. Ao poder avançar, em frente, um que vinha em sentido contrário, pespega-se e corta a passagem. Mais adiante, uma caminheta, faz manobras em cima do passeio e, como paro, o condutor, aborrecido, faz-me sinal para passar por um buraco de agulha. Agradeço, em português. No semáforo seguinte, dois pobres condutores não reconhecem a cor vermelha e passam. Tudo isto no meio de muitos piscas ligados de carros mal estacionados (a perturbar o fluxo de trânsito, a sério). Paro para fazer umas compras. Ao subir a escada rolante, um jovem casal, à minha frente. Ele formal, de cinzento, chaves do carro numa mão e a outra vai-se entretendo a bater com pancadas, certas e ritmadas, não violentas nem acariciadoras, nas traseiras das calças de ganga. Ela pergunta, a certo tempo, porque lhe batia ele. Ele responde que era para ela avançar mais depressa. Ela sorri (?) e ele olha para trás com ar de afirmação. Desvio-me de tal romantismo. Como estou perto do escritório de um velho amigo,ligo-lhe para tomarmos um café. Tem que ser no escritório. Entro, cumprimento e acabo por assistir a trinta chamadas por telemóvel. Agradeço o café e sugiro uma cavaqueira, sem telemóveis, um destes dias. Volto para o inferno anterior. De repente, vejo alguém muito sorridente, a a caminhar no passeio. Longos minutos de felicidade por telemóvel. Que raio terão aquelas frequências?
Ouço Renato Zero. Qualquer coisa como “Libera”. Uma nova era se desenvolve perante mim. A era pós telemóvel.
Ouço Renato Zero. Qualquer coisa como “Libera”. Uma nova era se desenvolve perante mim. A era pós telemóvel.
terça-feira, dezembro 16, 2003
Casuística
Ligo o rádio. Procuro acordar ouvindo alguma música e dando o gosto ao dedo, mudando de estação. Ouço: João não controla o seu corpo, João tem a má sorte de ter a doença de Parkinson. João pode melhorar a sua qualidade de vida fazendo fisioterapia. Vamos todos contribuir para ajudar o João a ter sessões de fisioterapia. Contribua. Lembro-me de uma canção de Alfredo Zitarrosa, uma milonga, que diz, a determinado passo; “Desprezo a caridade pela vergonha que encerra”. Estas acções (possivelmente meritórias) vêm ao longo dos anos a nunca resolver coisa alguma. Haverá sempre outros João, Miguel, Luís, etc., a necessitar
do nosso “bondoso” coração. Damos uns euros e esquecemos que haverá muitos mais a precisar entre os 15000 afectados por esta horrível doença ou por outras.. Para que se organizou a sociedade em Estado? Para apenas aplicar leis sobre o património e coimas? Para que serve o sentido de Nação? Para que serve o nosso patriotismo? Para acompanhar a selecção nacional? Aprendi que serve para tratar dos problemas de todos nós e que não podem ser tratados individualmente, incluindo a salvaguarda dos direitos e dignidade dos seus cidadãos.. E entre o direito à liberdade não estará o direito à saúde ou ao seu tratamento quando for caso disso? Ou será que a saúde de um povo ou de parte dele é apenas um negócio sujeito à lei da oferta e da procura? Com tantos convertidos ao liberalismo “à tribu”, não me admira nada. Só que quando afirmam que não há dinheiro, poderiam, por exemplo, pensar em limitar o custo das viaturas dos autarcas, não lhes retirando dignidade, mas também não caindo em exageros como por aí se vê. Longa seria a potencial lista das poupanças.
Numa época em que celebramos o nascimento do Cristo Redentor, também celebramos o Seu sofrimento e o de tantos anónimos que o seguem com a sua pequena ou grande cruz.
do nosso “bondoso” coração. Damos uns euros e esquecemos que haverá muitos mais a precisar entre os 15000 afectados por esta horrível doença ou por outras.. Para que se organizou a sociedade em Estado? Para apenas aplicar leis sobre o património e coimas? Para que serve o sentido de Nação? Para que serve o nosso patriotismo? Para acompanhar a selecção nacional? Aprendi que serve para tratar dos problemas de todos nós e que não podem ser tratados individualmente, incluindo a salvaguarda dos direitos e dignidade dos seus cidadãos.. E entre o direito à liberdade não estará o direito à saúde ou ao seu tratamento quando for caso disso? Ou será que a saúde de um povo ou de parte dele é apenas um negócio sujeito à lei da oferta e da procura? Com tantos convertidos ao liberalismo “à tribu”, não me admira nada. Só que quando afirmam que não há dinheiro, poderiam, por exemplo, pensar em limitar o custo das viaturas dos autarcas, não lhes retirando dignidade, mas também não caindo em exageros como por aí se vê. Longa seria a potencial lista das poupanças.
Numa época em que celebramos o nascimento do Cristo Redentor, também celebramos o Seu sofrimento e o de tantos anónimos que o seguem com a sua pequena ou grande cruz.
domingo, dezembro 14, 2003
SERGE LAMA
Ouço Serge Lama. “Le dernier baiser”. Vejo-o pouco nos escaparates das nossas
lojas de discos. Talvez por ser um grande cantor francês. Talvez por ser francês.
Talvez por ser dum país que preza a cultura e a qualidade. Talvez por ser de um
país civilizado. E ainda por cima Campeões do Mundo e da Europa em futebol!
E vou deixando a imaginação voar. Me liberto da medíocre televisão que me
impingem. Deixo os grotescos discursos que repetem o “déjà vue”. Sinto-me mais
vivo. São minutos em que sinto a verdade de Descartes: Penso, logo existo
SERGE LAMA
lojas de discos. Talvez por ser um grande cantor francês. Talvez por ser francês.
Talvez por ser dum país que preza a cultura e a qualidade. Talvez por ser de um
país civilizado. E ainda por cima Campeões do Mundo e da Europa em futebol!
E vou deixando a imaginação voar. Me liberto da medíocre televisão que me
impingem. Deixo os grotescos discursos que repetem o “déjà vue”. Sinto-me mais
vivo. São minutos em que sinto a verdade de Descartes: Penso, logo existo
SERGE LAMA
sábado, dezembro 13, 2003
De boas intenções...
Um homem morreu há dias de frio numa das principais cidades. Um apontamento televisivo dá-nos conta do sucedido e entrevista o homem que o encontrou. Mal lhe viu a cara. Coberto com um cobertor, desconheço o seu destino. A seguir um anúncio de um produto qualquer na tentativa de encher o olho do potencial consumidor. Teria família? Como teriam sido os Natais anteriores? O que o levou a dormir ali, no chão? Produto sem utilidade? Descartável jogado fora sem apelo nem agravo? Dizem que há muitos mais, na mesma situação mas que não morrem de frio. Morremos todos um pouco porque a sua solidão também nos gela.
quinta-feira, dezembro 11, 2003
Do sonho à realidade
Ouvi hoje que os americanos tencionam voltar à Lua. Segundo as sondagens 53% da população é favorável e vê com bons olhos esta nova aventura no espaço.Têm tecnologia, capacidade económica, são líderes mundiais e fica-lhes bem concretizar (uma vez mais) um dos sonhos da humanidade que já ultrapassou a ficção de Julio Verne.
Na Tribulandia, alguns, também sonhamos com a Lua mas de uma forma mais romântica, outros vivem nela, em permanência, outros mais afoitos e expeditos aguardam a possibilidade de viajar até ela a prestações suaves (60 ou mais), dependendo da extensão da crise e alguns jogam na Eurobolsa (vá-se lá saber qual delas!).
Os mais terrenos inauguraram há dias uma escola de futebol para bébés ( a partir dos 4 anos), para como diz o velho ditado “De pequenino se torcer o pepino”. Aprenderão as técnicas, teórica e praticamente, começando pelos problemas do balneário e equipamentos e assim sucessivamente. Dentro de alguns anos, isto vai produzir frutos, certamente, e teremos em quantidade vários Figos, Quaresmas e outros para exportar.
Finalmente, o almejado equilíbrio da balança comercial. E por que não um modelo económico tipo América Latina? Pensamos ser uma ideia a desenvolver. Poderá até contribuir para a diminuição da venda de património público, novas receitas de publicidade, marcas de chuteiras tribulanas internacionais e visitas turísticas guiadas a estádios. Nada desses aborrecidos museus e palácios antigos, evidentemente, ultrapassados. Vejo uma luz ao fundo do túnel.
Conselho do dia - Não deixe de utilizar o telemóvel com uma das suas mãos ao conduzir, e não gaste os eu rico dinheiro em instalação de um kit (sem mãos). A condução é mais divertida e todos verão a
sua habilidade e capacidade de comunicação.
RUBÉN GONZÁLEZ
Homenagem a um grande pianista
Morreu aos 84 anos o pianista de "Buena Vista Social Club"
Rubén González
Morreu aos 84 anos o pianista de "Buena Vista Social Club"
Rubén González
terça-feira, dezembro 09, 2003
Atribulações Generalizadas
Na Tribulandia é muito complicado acordar. Depois de uns sonhos mais ou menos agradáveis, entre um café e um banho, liga-se o rádio para animar a ainda presente sonolência. De vez em quando um fórum. Interessantes os temas, muitas vezes, mas levando-nos à triste realidade, mesmo antes de pormos o pé fora de casa. Hoje o tema era a nomeação do novo Comandante da Brigada de Trânsito. Algumas interessantes intervenções ( prova de que a inteligência ainda anda por aí distribuída) mas muito más notícias. Desde as promessas não cumpridas nas eleições, passando pela resolução casuística das situações, falta de meios de defesa das polícias, corrupcções generalizadas, civilismos exagerados, adiamento de resoluções por parte de ministros, clima de insegurança, agentes que são baleados com armamento superior, etc., etc....
Antigamente, tínhamos uma polícia autoritária e trataram de a desautorizar. Em nome de um democraticismo cego, toca a fazer os agentes pagar as fardas rotas e os consertos dos automóveis (dizem?), toca de os retirar da rua, toca de levantar inquéritos por tudo e por nada, toca de os motorizar e concentrar(?), toca de os por a caçar multas e pior do que isso a fazer vista grossa, em algumas situações. De repente, quisemos ter uma polícia britânica em 24 horas. Só que já a vi actuar e perante más atitudes reagem (e bem)) sem grandes hesitações. Parece que também foi feito um esforço para aumentar o nível de habilitações mas a nível geral a sensação é de pouco apoio ao pacato cidadão. Esta mudança de actuação só aconteceu na polícia? E nas escolas onde muitos professores são enxovalhados e têm medo de dar aulas? E nos balneários onde se festejam vitórias? E no trânsito citadino?
O problema é que grande parte da nossa sociedade deixou de respeitar o outro. E como sempre passamos do oito ao oitenta. Ou socialismo já ou capitalismo selvagem. Nada de meios termos. Ou autoritarismo cego ou mandamos todos, e em tudo. Impávidos e serenos, vamos assistindo a um fenómeno de desagregação social cujas consequências não são dificeis de prever. Já agora, continuem a tirar verbas às escolas para reduzir o nível de educação e civismo. Invistam antes em cimento.
Antigamente, tínhamos uma polícia autoritária e trataram de a desautorizar. Em nome de um democraticismo cego, toca a fazer os agentes pagar as fardas rotas e os consertos dos automóveis (dizem?), toca de os retirar da rua, toca de levantar inquéritos por tudo e por nada, toca de os motorizar e concentrar(?), toca de os por a caçar multas e pior do que isso a fazer vista grossa, em algumas situações. De repente, quisemos ter uma polícia britânica em 24 horas. Só que já a vi actuar e perante más atitudes reagem (e bem)) sem grandes hesitações. Parece que também foi feito um esforço para aumentar o nível de habilitações mas a nível geral a sensação é de pouco apoio ao pacato cidadão. Esta mudança de actuação só aconteceu na polícia? E nas escolas onde muitos professores são enxovalhados e têm medo de dar aulas? E nos balneários onde se festejam vitórias? E no trânsito citadino?
O problema é que grande parte da nossa sociedade deixou de respeitar o outro. E como sempre passamos do oito ao oitenta. Ou socialismo já ou capitalismo selvagem. Nada de meios termos. Ou autoritarismo cego ou mandamos todos, e em tudo. Impávidos e serenos, vamos assistindo a um fenómeno de desagregação social cujas consequências não são dificeis de prever. Já agora, continuem a tirar verbas às escolas para reduzir o nível de educação e civismo. Invistam antes em cimento.
segunda-feira, dezembro 08, 2003
Mulheres mal amadas
Segundo um telejornal de hoje 7 em cada 10 mulheres atendidas nos hospitais
foram agredidas em casa
foram agredidas em casa
Movimento sem sentido
Eu sei que é época de espírito de Natal, embora ele pareça vogar nos meandros dos shopping centers, apenas. Pus os olhos numa notícia de jornal. “Quatro em cada cinco condutores circulam em excesso de velocidade dentro das povoações”. Wow!!!
Para além dos excessos nas estradas, este parece-me particularmente grotesco. Mesmo
com as obras infindáveis e os buracos da nossa estima, mesmo com as ruas não desenhadas para tanto trâfego, mesmo com o custo de gasolina, a crise, a imensidão de carros em circulação, o mau estacionamento e os inúmeros semáforos, ainda há lugar para dar o gosto ao pé direito? E porquê? Porquê essa ânsia desmesurada de causar sensação e de se mover tão depressa? Que pensamentos encerram aquelas cabeças?
Eu tenho visto travagens bruscas ao chegar aos semáforos, já vermelhos, apitadelas a senhoras que se distraiem e atravessam fora da passadeira, travagens dentro das mesmas, arranques com vermelho posto e por aí fora. Para já não falar dos insultos velados ou explícitos e até mesmo de cenas de pancadaria, por uma simples ultrapassagem. . Não é portanto uma novidade mas mesmo assim assusta.
Desde logo, parece-me que estas pessoas têm problemas. Deveriam consultar um psicólogo. Vidas com stress constante, má estabilidade emocional ao nível do amor e das amizades, dificuldade em sentir o essencial de viver em comunidade, egoísmo elevado ao absurdo, intranquilidade, falta de confiança em si mesmo, má educação, maus filmes, má leitura, etc. etc...Seria caso para perguntar se, por acaso, chegam a algum lado?
E se chegam dois minutos mais cedo o que lhes adianta? Perdem o início duma ópera? Salvam alguém que necessita de médico? Creio bem que nada disso.
Desculpo-os, muitas vezes, porque penso que devem ser demasiado infelizes. Muito influenciados por uma cultura cega do ego, por umas escolas que não vão além do saber ler e contar, por uma competitividade estúpida, não baseada ciência e na técnica, mas sim na agressividade primitiva e pela adoração da imagem sem conteúdo. Que mundo temos vindo a construir? Será que regressaremos ao nível dos primatas? Não me admiraria muito. Salve-se quem puder, eis o grande princípio filosófico dos dias de hoje.
E não me atirem com as culpas disto para o Governo.
Os que ficarem para trás que se aguentem. Eu existo. Eu sou. Eu valho. Eu tenho.
Valores fazem já parte do baú das recordações. Viva a nova era.
Para além dos excessos nas estradas, este parece-me particularmente grotesco. Mesmo
com as obras infindáveis e os buracos da nossa estima, mesmo com as ruas não desenhadas para tanto trâfego, mesmo com o custo de gasolina, a crise, a imensidão de carros em circulação, o mau estacionamento e os inúmeros semáforos, ainda há lugar para dar o gosto ao pé direito? E porquê? Porquê essa ânsia desmesurada de causar sensação e de se mover tão depressa? Que pensamentos encerram aquelas cabeças?
Eu tenho visto travagens bruscas ao chegar aos semáforos, já vermelhos, apitadelas a senhoras que se distraiem e atravessam fora da passadeira, travagens dentro das mesmas, arranques com vermelho posto e por aí fora. Para já não falar dos insultos velados ou explícitos e até mesmo de cenas de pancadaria, por uma simples ultrapassagem. . Não é portanto uma novidade mas mesmo assim assusta.
Desde logo, parece-me que estas pessoas têm problemas. Deveriam consultar um psicólogo. Vidas com stress constante, má estabilidade emocional ao nível do amor e das amizades, dificuldade em sentir o essencial de viver em comunidade, egoísmo elevado ao absurdo, intranquilidade, falta de confiança em si mesmo, má educação, maus filmes, má leitura, etc. etc...Seria caso para perguntar se, por acaso, chegam a algum lado?
E se chegam dois minutos mais cedo o que lhes adianta? Perdem o início duma ópera? Salvam alguém que necessita de médico? Creio bem que nada disso.
Desculpo-os, muitas vezes, porque penso que devem ser demasiado infelizes. Muito influenciados por uma cultura cega do ego, por umas escolas que não vão além do saber ler e contar, por uma competitividade estúpida, não baseada ciência e na técnica, mas sim na agressividade primitiva e pela adoração da imagem sem conteúdo. Que mundo temos vindo a construir? Será que regressaremos ao nível dos primatas? Não me admiraria muito. Salve-se quem puder, eis o grande princípio filosófico dos dias de hoje.
E não me atirem com as culpas disto para o Governo.
Os que ficarem para trás que se aguentem. Eu existo. Eu sou. Eu valho. Eu tenho.
Valores fazem já parte do baú das recordações. Viva a nova era.
sábado, dezembro 06, 2003
FIALHO D´ALMEIDA - Vida Ironica
JORNAL D´UM VAGABUNDO
"Por fórma, que emquanto por toda a parte os que trabalham, gemem a nulidade
dos seus esforços, maldizendo a terra cançada que lhes não produz colheitas,
o desprezo do comprador pelos produtos das fabricas nacionaes, a retracção do
capital portuguez no auxiliar das coisas nossas, sejam ellas quaes forem, venham
d´onde vierem – enquanto nas provincias, a charneca se apodera dos terrenos
araveis, a vinha morre, os olivaes definham, os castanheiros apodrecem, o camponez
emigra, e as grandes casas aluem de hypothecas, vê-se o formigueiro dos parasitas
gordos, marchando de todos os pontos do paiz, direiro á capital , a procurar nos
bastidores da politica, talisca por onde metter as mandibulas nos celeiros do Estado,
que d´ora avante terá de constituir-se em patrono de todas as vadiagens, e em esmoler-
-mor de todas as preguiças."
"Por fórma, que emquanto por toda a parte os que trabalham, gemem a nulidade
dos seus esforços, maldizendo a terra cançada que lhes não produz colheitas,
o desprezo do comprador pelos produtos das fabricas nacionaes, a retracção do
capital portuguez no auxiliar das coisas nossas, sejam ellas quaes forem, venham
d´onde vierem – enquanto nas provincias, a charneca se apodera dos terrenos
araveis, a vinha morre, os olivaes definham, os castanheiros apodrecem, o camponez
emigra, e as grandes casas aluem de hypothecas, vê-se o formigueiro dos parasitas
gordos, marchando de todos os pontos do paiz, direiro á capital , a procurar nos
bastidores da politica, talisca por onde metter as mandibulas nos celeiros do Estado,
que d´ora avante terá de constituir-se em patrono de todas as vadiagens, e em esmoler-
-mor de todas as preguiças."
Foto do meu primo Joaquim em Vassora em ameno passeio
Moral da estória - A guerra é óptima para quem nunca lá andou
sexta-feira, dezembro 05, 2003
quarta-feira, dezembro 03, 2003
DISCRIMINAÇÕES
Hoje vi na Euronews um programa interessante sobre discriminação. Entre as várias existentes na
União Europea, destacaram a discriminação por motivos de idade. Sim,ela também existe ao lado
da étnica, religiosa, sexual e outras. Contava alguns casos,entre eles, o de uma alta dirigente de
uma multinacional que aos 53 anos se viu despedida.
Com muitos elogios e uma festa, onde ela, claro, se sentiu desajustada.A justificação dada era que
naquela idade era conveniente mudar de emprego! Demorou ano e meio a arranjar novo emprego
e para ser recebida em entrevistas foi necessário não indicar a idade. A União Europea prepara a
entrada em vigor de directiva que entrará em vigor em pricípios de Dezembro mas só 5 (cinco!) países
a aplicarão para já. Os restantes terão 3 anos para se conformarem.
Uma novidade é que as empresas terão que provar que a acusação de discriminação é falsa.Aplaudo!
Existem pessoas que raciocinam na UE e que têm sentido do que é a dignidade humana.
A seguir, um Banco holandês "Rabobank" de grande dimensão ( nove milhões de clientes e 5928
empregados) apresenta uma secção que trata da diversidade, como parte integrante da sua cultura
de empresa. Vejo um grande Banco que não pensa só para o dia seguinte e perspectiva o amanhã. E
claro, o Banco não é nenhuma ONG.
O tema é vasto e mereceria uma análise bem profunda. Mas como são sinais muito importantes, aqui
ficam para reflexão dos nossos "mestres" entendidos em gestão. Na Tribulandia os trabalhadores
são quase considerados como as máquinas e quando já parece exigirem uma manutenção, rua com
eles. A Segurança Social que os aguente. Já deram o que tinham a dar, venha sangue novo. Assim,
equilibramos a sociedade! Têm-se visto os resultados. E outros se verão...
EURONEWS
União Europea, destacaram a discriminação por motivos de idade. Sim,ela também existe ao lado
da étnica, religiosa, sexual e outras. Contava alguns casos,entre eles, o de uma alta dirigente de
uma multinacional que aos 53 anos se viu despedida.
Com muitos elogios e uma festa, onde ela, claro, se sentiu desajustada.A justificação dada era que
naquela idade era conveniente mudar de emprego! Demorou ano e meio a arranjar novo emprego
e para ser recebida em entrevistas foi necessário não indicar a idade. A União Europea prepara a
entrada em vigor de directiva que entrará em vigor em pricípios de Dezembro mas só 5 (cinco!) países
a aplicarão para já. Os restantes terão 3 anos para se conformarem.
Uma novidade é que as empresas terão que provar que a acusação de discriminação é falsa.Aplaudo!
Existem pessoas que raciocinam na UE e que têm sentido do que é a dignidade humana.
A seguir, um Banco holandês "Rabobank" de grande dimensão ( nove milhões de clientes e 5928
empregados) apresenta uma secção que trata da diversidade, como parte integrante da sua cultura
de empresa. Vejo um grande Banco que não pensa só para o dia seguinte e perspectiva o amanhã. E
claro, o Banco não é nenhuma ONG.
O tema é vasto e mereceria uma análise bem profunda. Mas como são sinais muito importantes, aqui
ficam para reflexão dos nossos "mestres" entendidos em gestão. Na Tribulandia os trabalhadores
são quase considerados como as máquinas e quando já parece exigirem uma manutenção, rua com
eles. A Segurança Social que os aguente. Já deram o que tinham a dar, venha sangue novo. Assim,
equilibramos a sociedade! Têm-se visto os resultados. E outros se verão...
EURONEWS
segunda-feira, dezembro 01, 2003
Orçamento familiar
Hoje fizemos uma importante reunião, cá em casa. Como todo o mundo fala em regabofe, decidimos fazer
alguns cortes no nosso orçamento familiar e assim dar um contributo para o equilíbrio das Finanças. Tomei a presidência e estavam presentes a minha querida Lurdinhas (embora eu não lhe bata), o meu filho Juca e a minha filhaSissi.
Depois de uma acalorada discussão chegamos a algumas conclusões, embora o meu Juca seja dado a francesismos e queria manter o défice. Ameacei-o, que assim, ficaria pequenino como o Marcos Mindinho e não iria a lado nenhum. E quais foram as nossa conclusões? Muito fácil de adivinhar:
- Poupar nos cortes de cabelo. Eu, estou mesmo, a pensar deixar crescer a barba para não utilizar lâminas importadas da Gillette.
-Não lavar tantas vezes a cabeça e poupar nos champôs estrangeiros. Usar as mesmas camisas durante, pelo menos, uma semana, e poupar no Tide..
- Deixarmos de fumar que mata e engorda as tabaqueiras. O meu Juca diz que assim já não teremos Grandes Prémios de Automobilismo e votou contra.
- Deixar de comer bifes do lombo, pescada fresca, linguado e outros e passar a comer alimentos já cozinhados como hamburguers, pizzas, folhados de porco e outros mais nutritivos. A Lurdinhas aplaudiu a decisão.
-Deixar de beber leite e de comer qualquer lacticínio, exceptuando os “Silhueta” para mantermos a linha.
- Tirar o Juca e a Sissi da Faculdade. Poupa-se dinheiro ao Estado e não vejo o que andam lá a fazer. A rapariga vai concorrer a um concurso de cantadeiras e o rapaz vai para uma escola de pontapé na bola. Ainda podemos ter um futuro brilhante se ele acertar nas balizas. Olhem para o Figas, nosso vizinho que até casou com uma modelo bem jeitosa.
- Deixar de comprar livros, tais como romances e poesia, que só servem para meter más ideias na cabeça. Continuar a ler “As Bolas”, os “Rekordes”, os “Vipes” e as “Holas” que nos alimentam a alma e o coração.
-Zanguei-me com a minha Sissi porque queria continuar a ir ao cinema ver filmes de realizadores esquisitos.
Com estes e outros cortes pensamos que já conseguiremos trocar de carro (sonho com um BM em segunda mão mas artilhado), comprar uma televisão de plasma para vermos melhor as novelas, aumentar o número de telemóveis para 15 (temos apenas 3 por pessoa) e ir de férias à Jamaica. Fui inflexível quanto a eu cortar na despesa com o Euro (quero ir a todos os jogos) porque era anti-patriótico.
alguns cortes no nosso orçamento familiar e assim dar um contributo para o equilíbrio das Finanças. Tomei a presidência e estavam presentes a minha querida Lurdinhas (embora eu não lhe bata), o meu filho Juca e a minha filhaSissi.
Depois de uma acalorada discussão chegamos a algumas conclusões, embora o meu Juca seja dado a francesismos e queria manter o défice. Ameacei-o, que assim, ficaria pequenino como o Marcos Mindinho e não iria a lado nenhum. E quais foram as nossa conclusões? Muito fácil de adivinhar:
- Poupar nos cortes de cabelo. Eu, estou mesmo, a pensar deixar crescer a barba para não utilizar lâminas importadas da Gillette.
-Não lavar tantas vezes a cabeça e poupar nos champôs estrangeiros. Usar as mesmas camisas durante, pelo menos, uma semana, e poupar no Tide..
- Deixarmos de fumar que mata e engorda as tabaqueiras. O meu Juca diz que assim já não teremos Grandes Prémios de Automobilismo e votou contra.
- Deixar de comer bifes do lombo, pescada fresca, linguado e outros e passar a comer alimentos já cozinhados como hamburguers, pizzas, folhados de porco e outros mais nutritivos. A Lurdinhas aplaudiu a decisão.
-Deixar de beber leite e de comer qualquer lacticínio, exceptuando os “Silhueta” para mantermos a linha.
- Tirar o Juca e a Sissi da Faculdade. Poupa-se dinheiro ao Estado e não vejo o que andam lá a fazer. A rapariga vai concorrer a um concurso de cantadeiras e o rapaz vai para uma escola de pontapé na bola. Ainda podemos ter um futuro brilhante se ele acertar nas balizas. Olhem para o Figas, nosso vizinho que até casou com uma modelo bem jeitosa.
- Deixar de comprar livros, tais como romances e poesia, que só servem para meter más ideias na cabeça. Continuar a ler “As Bolas”, os “Rekordes”, os “Vipes” e as “Holas” que nos alimentam a alma e o coração.
-Zanguei-me com a minha Sissi porque queria continuar a ir ao cinema ver filmes de realizadores esquisitos.
Com estes e outros cortes pensamos que já conseguiremos trocar de carro (sonho com um BM em segunda mão mas artilhado), comprar uma televisão de plasma para vermos melhor as novelas, aumentar o número de telemóveis para 15 (temos apenas 3 por pessoa) e ir de férias à Jamaica. Fui inflexível quanto a eu cortar na despesa com o Euro (quero ir a todos os jogos) porque era anti-patriótico.
Subscrever:
Mensagens (Atom)