Público
A sociedade escondida
Augusto Santos Silva
Queremos compreender realmente a sociedade portuguesa? Este povo cuja esmagadora maioria se declara católica, embora parte contraditoriamente "não praticante", e viu maciçamente um programa televisivo cuja estrela era um actor pornográfico? Esta opinião pública tão amiga da família que convive pacatamente com índices dos mais altos do mundo desenvolvido quanto a violência doméstica ou indiferença perante o isolamento dos idosos? Esta gente tão pacata que se mata aos milhares na estrada? Este país que gosta de reclamar padrões de bom comportamento e se revela, afinal, refém de tantas dependências, do tabaco, do álcool, das drogas, dos antidepressivos, dos jogos de azar, das casas de alterne?
(...)
Não podemos também substituir a informação pelo preconceito. De nada serve condenar sumariamente os tempos actuais em nome de uma suposta superioridade moral de outrora. Nem cortar as pontes de entendimento com o que nos pareça diferente ou estranho ou novo. Nem distorcer a realidade das coisas só para carregar no drama, generalizando sem critério ou desvalorizando os sinais de esperança. Nem encontrar à pressa bodes expiatórios, sejam eles os jovens suburbanos ou os rurais iletrados.
Mais adiante o prof. diz que é preciso sacudir a sociedade. Será que o futuro ministro espera que sejam as vítimas das erradas políticas de educação, economia, finanças, a alterar o quadro em que vivem? Será que ele vai sacudir alguma coisa? Ou está apenas a justificar o injustificável? Ficaremos a aguardar as intervenções públicas do ministro no sentido de alterar os maus comportamentos da sociedade.
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