Público
Parte 3
Fernando Ilharco
(...)
No centro desta Europa da inovação e do dinheiro, uma equipa de um russo, liderada por um português, com jogadores de mais de dez países, colocou um estádio inteiro a cantar música tradicional de além dos Urais. Ao ritmo dos cossacos, no "Eu amo Abramovich!", ouvia-se o comentário de Nietzsche: "a vitória é o melhor remédio!" E isto nos écrãs das televisões portuguesas.
Ouvia-se mais; ouvia-se que num estádio cabem milhões de vidas, que em Londres, em Barcelona ou em Lisboa cabem todos os sonhos da vida de um homem. O futebol contemporâneo, na televisão de écrãs cada vez maiores, filmado de cima para baixo como se se tratasse da visão de um helicóptero, é o que é para nós, europeus, sendo isso e mais na Palestina, no Iraque, no Vietname, na Colômbia ou no Zimbabué. Se lhe juntarmos os videoclips da MTV, os Óscares de Hollywood, os anúncios dos telemóveis, dos automóveis e dos hotéis de luxo por todo o mundo temos uma das mais poderosas frentes informacionais e culturais globais.
Que felicidade verdadeira estará trazendo esta mistura internacional de adormecimento colectivo? Que sonhos são esses que se afastam tanto dos ideais humanistas e reduzem a vida a emoções fáceis e ilusórias?
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