sábado, novembro 06, 2004

As leituras desvairadas políticas da Tribulandia

Há oito dias, no Público, Carlos Romano escreveu um artigo intitulado "Um PIDDAC (Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central) para um Portugal triste". Refere nomeadamente que:"O grosso das verbas é canalizado para as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto" e aponta para "as diferenças de desenvolvimento entre um Portugal gordo, mediático, superpovoado e litoral e um outro, magro, desertificado, triste, esquecido e interior". Sustenta que "as posições a pretexto das verbas do orçamento servem, quase sempre, para sustentar as leituras políticas mais desvairadas, tantas vezes contraditórias, e, em última instância alinhadas com as cores políticas dos diferentes protagonistas". Comparando o que se passa em dois locais Lanhelas, no concelho de Caminha e Tourém, uma aldeia perdida no Parque Nacional da Penêda-Gerês, relata que a primeira esteve sem iluminação pública durante 15 dias (meio mês) e a segunda, ser um exemplo que contradiz o abandono, a que estão votadas as aldeias da zona, desertas, ou em vias disso. E porquê? Porque "fica próxima de uma localidade galega, Randim e da Galiza, cuja administração parece mais amiga das pessoas, inclusivé dos nacionais portugueses. Os habitantes da Tourém servem-se das estradas galegas, por exemplo, para se deslocar para o seua empregos em Braga, Chaves ou Vila Real". Realça que "De vez em quando, convém descer à terra e mergulhar em exemplos concretos e indiscutíveis. Há realidades parcelares que explicam, por vezes, mais e melhor que os grandes números, a estatística cega e as explicações macroeconómicas".
Pensamos que seria interessante analisar a distribuição das verbas orçamentadas e verificar quanta atracção pelas obras de fachada, algumas, certamente, de utilidade futura duvidosa para a vida dos portugueses mas tradutoras de uma megalomania cimenteira (caso do metro do Porto, que absorve 663,61 milhões de euros, mais de metade da verba destinada ao distrito do Porto!) As pessoas contam? O desenvolvimento social, cultural e económico (investigação e inovação) conta? Teremos, certamente, muitos meios de transporte. Resta saber para quem e qual o nível da vida das pessoas que transportarão.

Sem comentários: