Tenho um vizinho chamado Albino, mais conhecido pelo "Rebenta", que esteve nas guerras de África, apanhou com uns estilhaços de granada na mona, foi condecorado mas ficou um bocado esfrangalhado dos nervos ( basta dizer que acredita que o estado lhe vai dar uma reforma que lhe permita viver dignamente. É muito simpático e costumo ir com ele jogar à sueca para o bar do clube do bairro,
"Os Tarecos F. C.". Há dias, fui ter a sua casa, como de costume, mas foi a mulher que me abriu a porta. Disse-me que ele estava no quintal a treinar. Entrei e encontrei o Albino a fazer flexões. Fiquei de boca aberta ( ele já tem para cima dos 50).Perguntei-lhe:
-Que estás a fazer? Olha que ainda arranjas alguma.
-Estou a preparar-me para as novas ameaças dos turras.
-Quais turras? Isso já foi há muito tempo e agora só há democratas. o tempo da guerra já passou para ti. Vamos mas é à sueca.
-Tu não lês os jornais? O Xéxé da Costa avisou-me que existem maiores perigos agora.
(Convém esclarecer que o Xéxé é o presidente do clube onde o Albino trabalha como roupeiro e que é um grande bocas. Conseguiu convencer o Albino que ainda vai ser treinador principal dos menores de 5 anos).
-Quais perigos? Disse eu.
-Muito pior que antigamente. Querem evitar que a nossa selecção ganhe o europeu. Uma verdadeira desgraça nacional.
-Sim, eu sei que anda muito maluco para aí, retorqui. Mas o que vais tu fazer para evitar isso?
- Vou para a porta dos estádio do "Dinossauro" com as crónicas do JPP e leio-as em voz alta. Creio que já não se atreverão a avançar mais. Se isso não for suficiente, levo o meu pau de marmeleiro e záz: é um ver se te avias.
-Ai sim? E se eles têm armas de fogo? Não estás a confundir hooligans com terroristas?
-É tudo igual, diz o Xéxé. É uma ameaça aos nossos valores, diz o Morinha. Estão combinados.
Desisti. Quando me vinha embora o "Rebenta" estava a colocar na cabeça umas meias da mulher e a enrolar no tronco um pedaço de colchão. Saí. Quando cheguei cá fora, ainda ouvi um grito parecido com os do kung-fu. É guerra, é guerra. Fui ás minhas cervejitas para matar o medo.
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