segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Divagações de um cidadão sentado num sofá
Ligou a televisão. Aí estava o santuário sagrado onde se guardavam os princípios normalizadores do comportamento do cidadão. Aconchegou-se no sofá. Pegou no comando e começou a viagem pelos reinos do imaginário. Ali no 1º uma gentil dona de casa lavava mais branco as ceroulas de estimado marido executivo. No 2º era dia de forum desportivo. Não chegavam os restantes canais repetirem todos a s mesmas cenas desportivas, entrevistas e outros factos; era necessário que o chamado canal cultural também industriasse as mentes com o golo perdido que tinha invalidado as nossas pretensões à liderança mundial. O 3º estava na nova telenovela, onde um bem musculado play boy rico tinha problemas por estar apaixonado pela filha da porteira, abandonada em pequena (desconhecia-se o pai e a mãe), com um terrível segredo de sofrer de uma doença incurável mas cujo antídoto se pesquisava no laboratório do pai do apaixonado rapaz. Entretanto a mãe do rapaz tinha tido um caso com um tio desconhecido da pequena e que ao que se supunha vivia na Amazónia e traficava em armas. Mais tarde iriam repetir pela terceira vez uma novela chamada "Anjos de Penas Soltas" para que nunca alguém se esquecesse da beleza das aparições celestiais de algumas almas de bailarinas de chan-chan ( põe a mão na cintura, rebola, etc)... O 4º apresentava as notícias com uma múmia que haviam desencantado num saldo de Cannes aquando dum Festival de Cinema. Cerca das duas horas da manhã, apresentariam um filme de terror e sexo, de quinta categoria, para deixar bem dispostos os que iriam trabalhar pela manhã. Pra quê dormir?
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