Público
O Excesso dos Nossos Sonhos
Por VASCO PULIDO VALENTE
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Até a democracia acabou um dia por nos cair do céu. Além disso, a civilização, aos soluços, chega cá sempre: a água canalizada, o comboio, uma espécie de Estado-previdência ou o DVD. Portugal é um sítio para onde escorre um bocado de Europa, como não escorre para o Haiti ou para o Darfur. É um sítio feliz, no fundo. Com um "atraso", claro, mas normal, que não explica ou desculpa o melodrama em curso. Por tudo isso, e para lá das ridículas peripécias de um regime desacreditado, de uma falência financeira sem concerto visível e de uma corrupção quase universal, Eduardo Lourenço oferece o consolo da mediocridade pacífica. Ele, que durante 30 anos persistentemente encorajou o "excesso dos nossos sonhos", desistiu de excessos. Portugal vale o que vale, "não mais". Fim de capítulo. Santana e Sócrates podem entrar.
Quando o consolo de mediocridade pacífica chega a vultos como Eduardo Lourenço que havemos de dizer? Parece que toda a sociedade desistiu de sonhar e se contenta com um quotidiano cinzento, sujo e alienante. Tudo em nome da democracia???
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