quinta-feira, janeiro 06, 2005
Cenas da vida doméstica da Tribulandia
Isto cá em casa está um saco, como diz o meu filho. A minha querida Lurdinhas não para se me xingar. Pôs-se a ver debates com doutores e políticos e toca de me arreliar dizendo que a culpa é minha por falta de produtividade e de competitividade. Começou a achar pouco o tempo que passo na fábrica, desde as 8h00 até às 20h00, com meia hora para almoçar. Está cheia de pena do meu patrão (que já não paga impostos há anos e deve outros tantos à segurança Social, devendo milhões) e da famíla que já não trocam de Porche nem de jeep há 2 anos. Diz que eu sou um malandro e que nem jeito tenho para colar cartazes do partido dela. Que deveria chegar a casa limpinho como aqueles dotores mesmo depois de me borrar todo a consertar as máquinas velhas. Está muito triste pelo Santana (pobrezinho, tão simpático e sorridente) e por aquele comentador a quem meteram a faca nas costas e que ia para deputado. Mas o ídolo dela é aquele senhor muito bem vestido que costuma falar dos aumentos do telefone, da electricidade e da água. Não deixa de me referir o vizinho que andava na moina há anos mas que agora como presidente de junta já deu um todo-o-terreno ao filho. Até chegou a dizer que antes queria que eu fosse bicha (?) mas que sequer ao menos aparecesse na televisão. Respondi-lhe se ela queria que eu andasse aos abraços e aos beijos dos matulões que moram no bairro. Estes programas de entendidos têm-me dado cabo da vida. Ela agora pensa que é intelectual ou lá o que seja e que eu como trabalhador pouco qualificado sou o culpado de tudo. Só falta acusar-me de ser o autor do Tunami o lá que é. Agora deu-lhe para insistir para eu mandar uma mensagem para a Tv para aparecer em rodapé dos programas. Um a coisa do género: Lurdinhas - Bairro do Cacete amo-te muito e biba o glorioso. Beijos para o bébé das Micas (vizinha) e continuem a fazer o bom trabalho de sempre. Ah, e quer um telemóvel daqueles topo de gama com televisão. Como não tenho dinheiro para me divorciar, Lá vamos a mais uma sessão de violência doméstica. Tenho que me pirar pró café.
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