Eles comem tudo e não deixam nada, cantava Zeca Afonso. Quem cantará agora as letras da canção que enegrece a nossa alma e nos coloca os olhos no desespero? Toni Carreira que quer um livro sobre a sua vida? Saudosismo? Mergulho no passado triste dos futuros de emigração para fugir à triste sina de viver num país que não reconhece os seus filhos nem os alimenta? Parece fatalismo de fado mas, infelizmente, continua a ser verdade. Será que o marketing conseguirá por todos a sorrir? Ou serão apenas os sorrisos contrafeitos das máscaras afiveladas na subordinação do ser ao ter?
E por onde anda a ambição dos grandes estadistas que fazem a história sem fazer correr o sangue e os dias monótonos do existir para sobreviver? País de vossas excelências que ignoram os que põem as batatas na sua mesa (aliás, cada vez mais importadas). Tristes, cada vez mais tristes, as sombras da cidade deserta ficam em casa a ver os concursos ou a receber as parcas misérias de uma reforma que os aniquila. E por onde andará a esperança? Longe em Bruxelas, também ela cidade triste e nevoenta? Mais estradas, mais pirâmides, mais estádios e cada vez menos vida. Nas torres dos condomínios fechados aguardam que, de novo, alguma voz de cantor se levante e os tire do estertor e os faça sentir algo. Talvez nem saibam o que é ter alma ou talvez o seu coração de lobos apenas obedeça ao instinto de aniquilar. Pobres filhos que tais pais possuem.
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