segunda-feira, agosto 16, 2004

O ópio que virou heroína na Tribulandia

O Jogador Que Veio para Vencer
Por EDUARDO PRADO COELHOO FIO DO HORIZONTE

A profusão e insistência dos jornais desportivos - que foram ganhando um peso impressionante na imprensa portuguesa - levam a que o trabalho jornalístico se converta num perigoso mas aliciante exercício: imaginar as diversas formas de converter o não-acontecimento em acontecimento. Uma delas corresponde a desenvolver a dimensão performativa do discurso: diz-se que a equipa vai vencer para criar as melhores condições psicológicas para que a equipa vença. Grande parte das entrevistas são feitas para que os desejos se tornem realidades, isto é, para que o que ainda não é acontecimento se torne acontecimento através da notícia que fala dele como se já fosse.
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Desde que Figo foi para o balneário agarrar-se a uma imagem da Virgem, tornou-se moda cada um indicar também o santo da sua devoção. Então o jogador acrescenta que é devoto de Santa Teresa, e que antes de cada jogo lhe dedica sempre algumas palavras piedosas. Lida a entrevista, ficamos a saber que o campeonato está ganho. Venha o seguinte.

Tornou-se necessária a alienação permanente de grande parte sa sociedade à falta de melhores meios de fruir a existência. De um espectáculo fez-se uma religião que cobra os seus dízimos mesmo sem o não crente querer. Veja-se o proteccionismo do estado, o apoio da televisão, das empresas (quase monopolistas) públicas e de alguns elementos da Igreja. Neste capítulo, a democracia existente exacerbou o uso da heroína colectiva.

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