Na rádio, pela manhã, uma mesa redonda. Primeiro tema: segurança. A propósito de uma campanha política de cartazes, colocados na capital. Boa ou má ideia, mais parecia a um dos comentadores que a campanha se destinava já às presidenciais, pondo em causa a figura de um potencial candidato. Os normais apelos a mais polícia e mais vigilância. Todos temos tendência a ser polícias. Parece que o facto de envergar uma farda ainda é um símbolo presente de autoridade. Qualquer coisa vai mal na sociedade? Mais repressão. Os impostos não chegam? Mais fiscalização.
Embora haja muito boa gente a fazer estudos sobre a origem da violência e da insegurança, nunca
começamos por procurar eliminar as causas, indo urgentemente aos efeitos. Parece-me haver uma estreita relação entre princípios aceites pela sociedade, educação, situação económica, marginalização de camadas populacionais, violência instituída e oficial, e mentalização de grandes grupos sociais para o triunfo a todo o custo e para o consumismo. Uma sociedade que ignora os valores e tem como principal deus o dinheiro;que admira as pessoas pelo que possuem;que exacerba a violência da imagem e o herói bruto;que ignora que deveria dar igualdade de oportunidades no acesso à educação e à cultura; que se precipita no estabelecimento de desigualdades cada vez mais aberrantes;que julga que o mercado resolve tudo milagrosamente;que se distancia do semelhante sem êxito material; que inconscientemente pratica racismo mesmo em relação aos seus irmãos de raça e que incita ao possuir por qualquer processo, o que poderá esperar? Tranquilidade e bem estar? Que fazemos nós relativamente aos que são castigados e punidos? Recuperamos os possíveis? Ou metemo-los em ambientes degradantes, fazendo de conta que não existem? Não teremos que tentar mudar o egoísmo geral, pelo menos a partir das futuras gerações? Se nada se fizer, nesta democracia formal, certamente acabaremos por ter para cada cidadão um polícia.
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