sábado, maio 14, 2005
Os famosos sobreiros da nossa desdita
Se ainda pudesse existir em algum espírito a dúvida sobre a real situação do país, bastaria ler a primeira página do "Expresso" e as restantes páginas que compõem o seu caderno principal. Não, não vamos falar do famoso défice orçamental (para isso bastam-nos os plácidos tecnocratas Constãncio e Cavaco, unidos no doce mar dos rolhas, à espera das prebendas. Falamos dos famosos sobreiros que, sem culpa nenhuma, simbolizam toda uma decadência de costumes que se vem agravando nas últimas décadas, e que, só agora, se visualizam melhor nos escritos públicos. Datas falseadas por membros do governo, parecerias ruinosas com privados (caso Portucale), cláusulas fixando preços ridículos, para o futuro, de bens públicos, dívidas à Segurança Social que durante cinco anos jazem serenas no fundo das gavetas, financiamento de partidos por entidades financeiras com cruzamento de interesses,negócios escuros de adjudicações, etc... Tudo no maior silêncio, na calma dos gabinetes e utilizando leis feitas, muitas vezes, pelos mesmos, e que, como é de bom tom, têm diversas interpretações. O grupo do tesoureiro de um partido (CDS) só deve 10 milhões ao Estado. Uma ninharia para os senhores cavalheiros. Muitos mais negócios se têm realizado, parece que nas mesmas condições. Tudo em nome da sacrossanta democracia e da iniciativa privada. Os roubados, ou seja, todos os que fazem parte da nação, candidamente e estupidamente, entretêm-se com o futebol, com as telenovelas e com as histórias dos VIPS. Algures, no mesmo jornal, António Marinho escreve sobre investigação criminal, e deixa a ideia da possibilidade da sua partidirização. Estaremos já no caminho das velhas desculpas? Serão todos inocentes num país de corruptos? Veremos no final. Depois venham queixar-se da fuga aos impostos. Parece que todos os que os pagamos somos afinal os que sustentamos essa cambada.
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