sexta-feira, julho 30, 2004

Tão inteligentes que eles são

Público
Geração 2000
Por MIGUEL SOUSA TAVARES
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A malta do Compromisso Portugal não se deteve a pensar ou não se atreveu a explicar a Santana Lopes que desmantelar, baralhar, confundir a orgânica do Governo resulta apenas em perda de tempo, de eficácia e de dinheiro.
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De igual modo, ninguém se atreveu a explicar ao primeiro-ministro que a sua única ideia própria - deslocar alguns Ministérios, depois transformados em Secretarias de Estado - e fazer uma reunião do Conselho de Ministros uma vez por mês fora de Lisboa, não passa de demagogia barata, que apenas acarretará mais custos, mais desorganização administrativa e mais perdas de tempo.
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"Estes dois exemplos quase anedóticos são elucidativos do patamar a que chegámos na política. A ditadura democrática substituiu a competência, o 'curriculum', a obra feita. A imagem e a demagogia afastaram a reflexão e a ideologia. A ambição e o oportunismo substituíram a verdade a coragem. Os caciques partidários substituíram as elites, tidas por antidemocráticas porque, ao contrário dos outros, nunca foram a votos. E assim chegámos ao governo dos piores que a nação tem. Haverá regresso?"

Nunca Miguel Tavares esteve tão lúcido na análise da realidade portuguesa. Os beneficiários passivos do sistema passaram a actores principais. Na verdade, vivemos numa ditadura democrática da incompetência disfarçada pelos meios de comunicação. O êxito de um país não se vê pelo alto nível de vida de meia dúzia de iluminados (sabe-se lá porquê) mas pelos equilíbrio geral de um povo com objectivos claros. Muitos, na política, não passam de ser uns caciques que tomamos por Junos.

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