domingo, abril 24, 2005

Os mitos que escondem a realidade


Fomos ver o filme "A Queda" sobre os últimos dias de Hitler. Já tínhamos lido nos jornais apreciações sobre o filme e a curiosidade era grande. Hitler demónio? Hitler personagem normal como qualquer um dos mortais? Esta visão mais personalizada traria compaixão sobre um homem nos últimos dias de vida, triste e colérico, avassalado pela doença? Alguns dizem que apenas os judeus e os alemães podem ter uma ideia mais precisa sobre o ditador. O filme tem qualidade, a interpretação é boa e o tempo é bem dispendido a ver o filme mas o pensamento sobre a figura e a época perdudará para além das horas sentado no cinema.
De novo o culto da personalidade vem ao de cima. Centrar num personagem toda a responsabilidade ou todo o mérito de um fenómeno social não será uma visão distorcida da realidade? É um homem que conduz o destino ou todo um conjunto social que empurra sempre alguém para pastor e centralizador da atenção de um povo em geral? O culto da personalidade nunca desapareceu da sociedade, parecendo haver necessidade de um chamado líder para centrar os objectivos gerais. Isto ainda se passa nos dias de hoje e basta falar de cavaquismo ou de guterrismo para não ir mais longe. Anteriormente, Salazar era o fascismo. Sempre a necessidade de uma história encenada e preparada para servir aos incautos ou aos que dela precisam para uma alienação fácil do quotidiano. Assim, ninguém é culpado do que, no passado, foi mal feito ou foi monstruoso como neste caso de Hitler. A sociedade gera indivíduos que por muitos e complicados factores se tornam parte central de monstruosidades. Na realidade, eles poderiam ser mais normais se enquadrados noutro tipo de evolução ou de educação.
Porventura as atrocidades terminaram com o desaparecimento de Hitler? Não, elas continuam por aí a fazer das suas através do terrorismo, das guerras inúteis para o ser humano, da fome que milhões passam em África e muitas outras. Mal comparado dirão muitos mas, se pensarem bem, os holocaustos não terminaram, só que os actores vestem outras roupagens e os cenários são diferentes, basta pensar no que tem acontecido em África.
Filme perturbador, leva-nos ainda a pensar se os riscos de novas ditaduras impiedosas e destrutivas acabaram? A história tem os seus tufões e o abandalhamento de costumes e o materialismo neo-liberal não auguram nada de positivo.

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