Embalaram-nos durante anos com as cantigas aprendidas em Argel, em Moscovo e em Paris. O povo era sofredor, o regime opressor e os povos de além mar escravos da nossa tirania. Faziam-nos sentir mal e prometiam a entrada no mundo civilizado. Vieram de combóio e de avião recolher a ingenuidade do povo. Passearam-se de flores na mão, tudo em nome da fraternidade. Arrasaram a torto e a direito a economia e o que estava mal ou bem. Prometeram um ensino moderno e um futuro para todos. Uma delícia! Desataram a soltar a verbe e o palavreado encheu comícíos, televisões e rádios. Cada qual o mais palrador. Alguns arranjaram reformas ao fim de poucos anos de palavreado e outros sentaram-se nas cadeiras das empresas públicas e privadas. O ensino, passou a ser uma desgraça colectiva para encher estatísticas. Sapateiros chegaram a ministros.
Anos depois, que é feito da esperança e das promessas? Encheram os caixotes do lixo e os bolsos de alguns. A juventude não crê em nada, o egoísmo pavoneia-se nos carros e no saber balofo, as empresas pequenas entraram em crise, o desemprego campeia, importamos a maioria do que comemos e entregamos de mão beijada tudo o que foi construído com o suor e a exploração do "querido" povo. Repartem pelos vários partidos o que sacam e quem venha a trás que feche a porta. A justiça passou a metáfora, a saúde a bem de luxo e o emprego a escravidão. Contentes, continuam a dar futebol à malta e outras bugigangas (escândalos, telenovelas e revistas cor de rosa). Os explorados povos desataram à batatada entre eles e vêm para melhorar a vida para a terra dos exploradores? Milagres do progresso. Lá também novos senhores desataram a discursar e a encher os bolsos. Aprenderam com os libertadores. Todos a favor do povo, partem e repartem e como não são tolos ficam com a melhor parte. Lambem as botas a qualquer engravatado estrangeiro e reescrevem a história com telemóveis topo de gama. Ficarão felizes quando todos os tribus andarem de joelhos.
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