domingo, janeiro 08, 2006

A autocensura e a complacência com a mediocridade

JN
Vão-se os anéis, salvem-se os dedos

Quando há anos soube que a Assembleia Municipal do Marco (com um voto contra) havia aprovado uma proposta para que fossem recusadas as minhas crónicas neste Jornal, pensei que isso se reduzia à concepção que Ferreira Torres tinha da democracia. Mas, ressalvadas as devidas distâncias, tenho de reconhecer que está a ser desenvolvida uma cultura de poder que tem da informação uma noção parecida. Perdeu-se a noção de que a liberdade de imprensa é um bem da sociedade antes de ser um direito de profissionais. E, como bem fez notar Hannah Arendt, tal liberdade só pode ser exercida do exterior da esfera política e, em democracia, não existe delito de opinião. A responsabilização dos jornalistas faz-se pelo direito de resposta e pelo recurso aos Tribunais.
Mas, para além do procurar banir a escrita de um cronista inconveniente ou do "blackout", o poder político encontra sempre outras formas de coagir a liberdade de imprensa pressiona os jornalistas a desenvolverem, no seu trabalho, uma autocensura que embarace a sua livre interpretação dos factos, restrinja o seu sentido crítico e escrevam ou revelem somente o que é agradável.

A concepção actual de democracia actual baseia-se muito no abanar da cauda ao acenar do poder.

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