Tomava o café. Encetei uma daquelas breves conversas com a empregada que serve para quebrar o gelo de um qualquer balcão. Acabei descobrindo que tinha vindo há alguns meses da Suiça, onde tinha vivido muitos anos. Naturalmente, perguntei a razão da volta e se estava mais contente por viver na nossa terra. Sabia já das dificuldades que iria encontrar cá mas tinha julgado que se sentiria melhor junto do seu povo. Afinal, acabou ficando desiludida, não por uma questão de dinheiro mas sim pela diferença de ambiente social. Cá tudo era mais triste, menos convidativo a experimentar a alegria de viver. Enfim, ia voltar para a Suiça porque já não lhe agradava viver aqui. Paguei, desejei-lhe felicidade no retorno e fiquei também com vontade de partir para outro lugar. Este país ficou cinzento, cheio de carros com caras rígidas, egoísmo estampado nos olhares para os outros, americanizado no mau sentido do que lá existe de mais vulgar, desconfiado e competitivo pela baixeza, reino onde a mentira impera e o espertismo saloio se evidencia. Atenua esta mediocridade de vida a inserção da alegria dos imigrantes brasileiros e africanos que mesmo com dificuldades e muitas vezes mal acolhidos, impregnam os nossos dias de sorrisos e sotaques mais abertos.
Na verdade, esta cultura ortodoxo-cristã, misturada com certos estrangeirismos europeus está a gerar uma raça seca, anódina e de prazeres individuais, onde a ignorância substituíu a cultura e as contas do défice estrangulam o cotidiano.
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