terça-feira, maio 27, 2008

A crise e a alienação do povo

Finalmente, o resultado da ignorância dos nossos políticos está aí: a crise. O total desconcerto da governação, acompanhado pelo sentimento do crédito e do consumo infinito começa a revelar as falhas de um tecido político, económico e social esfrangalhado. Perdido o sentido do bom senso em matéria de crédito bancário para exacerbar o consumo individual que se transformou no paraíso terreno, aberto o mercado à inevitável concorrência de empresas muito mais poderosas, o país tem vivido não o sonho de uma vida mais tranquila e de progresso mas sim o sonho de sermos campeões da Europa. Uma classe de afortunados beneficiada e uma multidão de aparentes europeus adormecida no doce embalo do futebol, das fofocas e das telenovelas eis o quadro triste onde se vai inserindo o fenómeno da pobreza real. São trinta anos de loucura colectiva, amenizados por comentadores serventuários do poder. E a loucura continua. Ele são entrevistas das mulheres dos jogadores, ele é o seleccionador a fazer de agricultor e o Mourinho a dar lições de liderança e do ganhar fácil. Toda uma máquina montada para a alienação.
Fracos e pouco desenvolvidos tecnicamente, julgamos que a competitividade se mediria pelo tamanho dos Mercedes pagos a anos de vista. Incultos, propagamos a facilidade da obtenção de diplomas sem qualquer esforço para reforço das estatísticas a mandar para Bruxelas. Nada de modificar o tecido empresarial ou de investigar. Nada de apoiar as boas iniciativas desbaratando subsídios sem qualquer efeito económico reprodutor. As pequenas e médias empresas são apenas um slogan de comício e a concentração em meia dúzia de grupos pouco imaginativos é a regra, submetendo o consumidor a autênticos carteis de enriquecimento que nunca deixam de se alimentar do Estado e dos nossos impostos.
Claro que o mercado tem muitas virtudes mas tem algumas falhas. Entre elas a falta de concorrência, a gestão da escassez por parte de alguma empresas e factores externos como a intervenção do estado na fixação de condições que determinam o seu mau funcionamento (caso por exemplo de alguns impostos). Este não é um mercado de livre concorrência mas sim um mercado de livre actuação de algumas empresas poderosas. E a diferença é substancial.
Rezemos para que a selecção ganhe à Turquia e esperemos que os nossos tão sábios economistas, de receitas feitas, resolvam a maneira de chegarmos à final do Europeu.

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