António Barreto, no "Público" de hoje, escreve sobre futebol e sobre um programa chamado "ALiga dos Últimos". Trata-se de um programa da RTPN que faz a reportagem dos clubes de futebol das divisões inferiores. A determinada altura escreve: "Não. O futebol também é do povo. Por isso se mostra o povo. Campos de terra batida, jogadores com quarenta anos e barriga proeminente, clubes carregados de dívidas e destreza desportiva mais ou menos nula. Jogos de nenhum interesse e de estética duvidosa. Por esse programa passam clubes que nunca ganham um desafio, que estão em vésperas de desistir e que por vezes têm dificuldades em alinhar o numero adequado de jogadores.
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Não sei porque carga de água, o programa é hoje de culto. Os urbanos gostam e deliciam-se. Dizem-se ali boçalidades cruas. Toda a gente bebe cerveja a mais. Aquelas brincadeiras de bairro ou de aldeia aspiram agoa o momento de glória que lhes é trazido pelo facto de os novos dirigentes da RTP teram passado o programa para a RTP1, às 21H00 de sexta-feira...
É uma hora de autêntico desprezo social pelos aldeões, pelos provincianos, pelos pobres, pelso gordos, pelso mais velhos, pelso ignorantes e pelosa analfabetos."
O que encontramos de engraçado neste artigo do intelectual é esta separação entre este tipo de futebol e o chamado de Liga de Honra, onde se exibem as vedetas. Se pensarmso bem o tipo de público é o mesmo, descontando os políticos, os ricos, as madames e os pseudo intelectuais que têm sempre uma predilecção clubística para se identificarem com o povo. Será que ele nunca foi a um estádio de futebol e tem apenas uma imagem idílica do que se lá passa? Será que nunca ouviu os palavrões, a idiotice de gritar golo quando a bola passa a dez metros da baliza, os saltos de autênticas molas, os apupos, as assobiadelas e o choro dos que acham que perdem? Será que nunca viu os adeptos aos abraços, os jogadores a apalparem o traseiro dos colegas e o ar parvo dos dirigentes e convidados muito compenetrados como se estivessem na ópera?
Este futebol é idêntico ao outro só que com mais mediatismo e mais elaborados comentadores que o tentam tornar ciência. Sr António Barreto olhe para o povo em geral e verá muita boçalidade nua ou disfarçada. Não é assim que o querem? Sublisso e disposto a carregar toda a vida uma miséria encoberta, na cauda da Europa, num país onde meia dúzia de manobradores e corruptos puxam os cordelinhos?
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