terça-feira, agosto 22, 2006

A política cultural do presente e do futuro

Para se perceber bem o estado do país basta estar sentado numa mesa de café, quase vazio, e escutar a conversa de alguém que se senta ao lado com o empregado que o vem servir, acompanhada a determinado passo pelos empregados de balcão. E que tema ou temas versam os ilustres companheiros de um fim de tarde? Nada mais menos do que futebol, futebol, futebol... Chega a ser encantadora tanta inocência e candura. O meu é o melhor, o treinador é muito inteligente e o dirigente um superdotado (jogadas excepcionais de bastidores). Tudo se discute ao detalhe, desde a táctica até ao joelho do jogador. Assim passam o tempo, assim enchem a cabeça de golos e assim vão deslizando na monotonia das suas vidas. A tudo isto, acrescentem-se os comentadores dos jogos, em directo ou em diferido (tanto vale) que, seguramente são, quase sempre, descendentes da Bela Adormecida para não dizer de Baco. Tecem os mais imbecis dos comentários e esquecem-se que o espectador, mesmo à distância, se apercebe de tanto disparate. Algumas vezes, um diz uma pretensa piada e o outro ri-se. Serão todos primos do dono da estação de televisão? Após os jogos, novas doses de comentadores, estes mais pretenciosos e eloquentes, que, trocando alguns piropos ensaiados e tecendo comentários estratégicos, elevam a modalidade a ciência sociológica da batata. Assim se passam os tempos de lazer numa televisão educativa. Assim formamos crianças para um amanhã de pouco saber e de pouca cultura e de carreiras profissionais marginais. Guardem as bandeirinhas, que podem ser úteis para aclamar os futuros senhores que lhes darão os empregos, agora desempenhados por imigrantes não qualificados.

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